22/07/2023

Conceito e Fundamentos de Fraternidade

 por José Gonçalves Siqueira

"Os objetos no mundo físico ocultam sempre sua construção ou natureza interna; vemos apenas a superfície" (Max Heindel em Cartas aos Estudantes carta 40)


Partindo desse princípio enunciado por Heindel, de que as causas reais de tudo o que vemos neste plano físico são expressões de forças inteligentes, ocultas à percepção de nossos cinco sentidos, podemos afirmar que a Fraternidade Rosacruz é a projeção de uma causa oculta, que transcende as quatro paredes dos lugares em que seus membros se congregam para fins coletivos e específicos. Originariamente a Fraternidade Rosacruz é uma ideia e como tal, imortal, embora, dentro das concepções humanas, venha passando por transmutações cada vez mais elevadas, suscitadas pela luz de Cristo e dos Irmãos Maiores da Ordem.

Toda ideia leva em si um caráter de totalidade e, portanto, imortal.

Quando dizemos Fraternidade não particularizamos esta ou aquela Sede, senão que pensamos num todo o tronco, os galhos e as folhas formam um todo: a árvore. Assim também, os inúmeros membros, grupos, centros, Sedes Rosacruzes todos e eles pautando suas atividades pela orientação dada a Max Heindel pelos Irmãos Maiores, são, comparativamente, as folhas, ramos e galhos de um tronco, cujas raízes estão fincadas num lugar privilegiado: MOUNT ECCLESIA. Todos somos UM, formamos um TODO, constituído por homens e mulheres que LIVREMENTE aceitaram os encargos e disciplinas requeridos para ser uma folha viva da grande árvore plantada por Max Heindel, um grande JARDINEIRO. Se exprimimos a vida que flui através de cada membro, somos parte integrante. Se desafinamos, cortamos o fluxo da seiva vivificadora que liga todos na mesma ramagem de SERVIÇO coerente.

Como movimento unificador, a Fraternidade Rosacruz não brotou de concepção humana fantasiosa, senão de um arquétipo superiormente concebido por seu fundador: Max Heindel.

Essa ideia, portanto, continua atual e vai se desenvolvendo e adquirindo sua plenitude, à medida em que seus membros, por sua vivência realmente cristã, nela se integrem cada vez mais e se tornem ramos de novas folhas.

Muitos indivíduos querem reformar o mundo, a sociedade; acham arcaicas as religiões e os movimentos que agrupam os seres humanos em bases religiosas, taxando-os de ultrapassados.

Pensam que esta época é de mudanças. Não estamos de acordo. Pensamos que a época, principalmente esta, deve ser de transmutação e não de mudança. O termo mudança subentende quebra de continuidade. Transmutação já é um processo contínuo, como o que se opera na vida humana; um processo de desdobramento onde cada fase da vida se apoia na anterior, onde cada fase é essencial, como degraus para um desenvolvimento futuro.

Portanto, o aspirante rosacruz parte sempre da ideia do que ele pode fazer pela Fraternidade. Sua concepção é parcial ainda, mas é suficiente para compreender que não é apenas teoria, senão que deve enquadrar sua vivência, na esfera individual e coletiva, dentro dos ideais que abraçou. Ele recebe orientação para sua gradual integração na ideia expressa por nosso lema: "Uma mente pura, um coração nobre, um corpo são".

A prática desse lema é o desenvolvimento de um processo de purificação ou de higienização que se realiza paralelamente com uma reformulação racional da dieta alimentar, da vida afetiva e mental do aspirante.

Para aceitar e viver a IDEIA fundamental, concebida pelo fundador da Fraternidade e que representa sua pedra fundamental abstrata, deve o Aspirante aceitar espontaneamente o sacrifício ou renúncia a princípios errôneos de sua vida anterior. Esse processo pressupõe, naturalmente uma transição. Não se trata de uma reforma instantânea, ou anti-psicológica[U1] , mas de uma mudança gradual e firme, de hábitos. É a renúncia da personalidade e enquadramento do indivíduo, como ser espiritual, nas leis naturais. É renúncia ao de que gostávamos, mas que nos ofuscava a mente e nos limitava a expressão superior.

O Aspirante sincero que se dispõe a ampliar sua concepção de Fraternidade até completa integração IDEAL nos princípios de Cristo, é, no dizer de Max Heindel, UM SACRIFICIO VIVENTE. Mas, não terá, acaso, esse conceito, algo de masoquista?

Temos um padrão de vivência que exclui de imediato essa suspeita: CRISTO! Ele é nosso padrão e ideal. Os Irmãos da Rosacruz vivem no integralmente. Max Heindel o atingiu até determinado grau. Quanto a nós, Aspirantes, como "Cristos em formação", estamos sinceramente empenhados em alcançar nesta vida o melhor ponto possível desta gloriosa meta!

publicado na revista Serviço Rosacruz de fevereiro de 1966

Mais tributos a Max Heindel

09/07/2023

A Consciência do Auxiliar Invisível - III

por  Ann Burkhurst (veja notas finais)

Muitos relatos dos mundos internos corroboram as afirmações de Max Heindel a respeito dos vários fluxos, e refluxos e correntes que varrem as regiões do desejo e etérica. Tais correntes não são meramente eletricidade física, como poderiam ser admitidas. Elas são forças da envoltura áurica do globo terrestre e da aura humana. Esses "rios de magnetismo" fluem em todas as direções ao redor do globo, onde os Auxiliares Invisíveis conscientes ou inconscientes neles caminham, atraídos infalivelmente ao longo de linhas definidas de força, em direção específica. 

À medida que se tornam conscientes, como o já citado probacionista, (da parte II) pasmam-se ao descobrir que aquelas correntes magnéticas parecem brotar de sua própria consciência e fluir para dentro ou ao longo do Mundo do Desejo, tal como os rios que desaguam no Oceano. Tais correntes, podemos compará-las às correntes conhecidas como a do Golfo (Gulf Stream) que percorrendo o Atlântico Norte, toca as Ilhas Britânicas, suavizando um clima que de outra forma seria insuportável.

No "Inferno" de Dante,lemos a descrição de dois amantes, no inferno, isto é, nas regiões inferiores do Mundo do Desejo. Lemos que se ouvia um som como o de um mar revolto, porém tal ruído era provocado pelas rajadas tempestuosas do inferno que "com fúria incessante arrebanhavam os espíritos". Assim, como ao prenúncio do inverno os estorninhos são levados em suas asas para outras paragens, da mesma forma aquelas almas são levadas inexoravelmente, para cá e para lá, acima e abaixo. Essas correntes que fluem e refluem tão suavemente em relação ao Auxiliar Invisível, tornam-se violentas e implacáveis nas regiões inferiores do Purgatório, onde elas são a expressão da violência e da paixão.

Max Heindel afirmou que, assim como é próprio da lei natural gravitar em direção à Terra quando em corpo físico, também o é levitar na Região Etérica. Portanto o Auxiliar Invisível rompe as extensões superiores dos éteres como proa de um navio, enquanto vales, colinas, cidades e planícies passam abaixo deles.

Da costa oeste nos vem um relato de uma probacionista que numa manhã viu-se levitando acima de seu corpo, flutuando em direção ao mar dizendo: "lá vou eu, lá vou eu". Porém, vendo que se dirigia em direção ao Oeste, prontamente pensou: "Não, eu quero ir em direção oposta, ao Templo da Rosacruz". Então imediatamente curvou-se para trás como um silfo no ar, movendo-se para cima para baixo, num longo arco de magnetismo. Entretanto pressionado por uma forte atração magnética que parecia vir de fora (por meio do Cordão Prateado, indubitavelmente) sentiu-se então descendo em direção a seu corpo adormecido, despertando momentos depois, sem perda de consciência, mas também sem compreender como entrou no corpo.

Quando nesses voos pelos éteres, é comum o probacionista imaginar-se sozinho, porém isto não acontece, pois há sempre uma vigilância e proteção constantes. Para ele os protetores são invisíveis, visto que agem num nível de consciência mais elevado. Tal fato ratifica a assertiva de Max Heindel, de que parte do trabalho iniciático consiste no esforço para aprender a ascender a níveis mais elevados do que o etérico, depois de ter deixado o corpo físico.

Outro probacionista relata-nos com sentiu-se levitando, porém, ao perceber que regressava ao corpo, reuniu suas forças tentando subir novamente; logo em seguida sentiu, embora nada visse, que mãos poderosas o seguravam pelos pulsos, mantendo-o no ar.

Outro caso que ilustra a fase transitória da consciência, vem dos primeiros períodos da Fraternidade Rosacruz, no tempo de Max Heindel. Esse caso demonstra a relativa inutilidade da fase transitória, mas indica a existência da constante vigilância exercida pelos Mestres Iniciados Irmãos Maiores e sobre aqueles recém despertos para os planos internos.

Um probacionista emigrado para a América, certa noite viu-se desperto nos "éteres", sendo levado por uma magnética atração à cidade onde anteriormente residira, na Europa. Percorreu as ruas antigas e os saudosos caminhos, constatando que diversas mudanças se haviam verificado, desde sua partida rumo à América. Notou inclusive em um certo edifício, um anúncio luminoso, cujos dizeres despertaram sua atenção. Prosseguindo com o seu passeio, começou a sentir-se seguido por alguém. Mais de uma vez volveu os olhos para trás, nada percebendo, entretanto, isto porque seu protetor vigiava-o de um plano superior. Depois de algum tempo regressou ao seu corpo, voltando ao estado natural de consciência. Com o passar dos tempos, surgiu uma oportunidade para que o nosso probacionista visitasse sua antiga cidade, em consciência de vigília. E assim ele pôde confirmar realmente a existência de todas aquelas inovações introduzidas naqueles saudosos lugares, inclusive o anúncio luminoso já mencionado.

Em geral as experiências conscientes verificadas com os Auxiliares Invisíveis, ocorreram perto de meia-noite ou entre a meia-noite e a aurora, depois do trabalho de restauração do corpo, tal como descreve Max Heindel. É provavelmente durante o ciclo da alvorada que o neófito recebe instruções, se ele as desejou, ou então, frequenta classes semelhantes àquelas do Mundo Físico, com a diferença de que nesse plano os ensinamentos são ministrados por meios de métodos extraordinariamente avançados.

Dentro do assunto tratado, uma outra questão merece ser alvo de comentários: o sonho comum, o qual, embora geralmente confuso e vago, algumas vezes relaciona-se com um fato real do qual tomamos conhecimento quando despertamos. Novamente seremos auxiliados a compreender como isso acontece, se recorrermos a uma analogia física.

Comumente, todos nós temos tido sonhos que se relacionam com fatos que acontecem em nosso ambiente físico. Por exemplo: os cobertores podem ter caído da cama, aí então sonhamos que estamos tremendo de frio nas regiões geladas do Polo Norte; um cão uiva sob a nossa janela, sonhamos então que está se perpetrando um assassinato. E assim por diante. Da mesma forma, quando o neófito está dormindo, os eventos do mundo interno estão continuamente pressionando sua mente, e já sensibilizado por força de seus estudos esotéricos, começa a despertar sob suas ações, ao passo que o homem comum, encerrado em sua prisão de carne, repousa a noite inteira em completa inconsciência em relação a esses impactos. Em relação ao neófito, o seu trabalho como Auxiliar Invisível pode ser-lhe mostrado na forma de sonho grotesco, o qual, a despeito de sua natureza, permanece na memória em forma obcecante.

Os sonhos confusos resultam da carência de alinhamento entre os corpos de desejos, vital e denso, e assim permanece o Ego, parte dentro e parte fora desses veículos. Em tais circunstâncias as impressões recebidas dos planos internos ficam falseadas, e mesmo a recordação de uma experiência verdadeira tende a apresentar-se algo vaga ou indefinida. Mas, um acontecimento que se apresenta ante um espírito de pesquisa, com propósitos de autoinstrução, auxiliará a clarear a totalidade do campo do inconsciente, e, de um modo gradativo, certos fatos emergirão do turbilhão dos sonhos, quase de acordo com um modelo, cujo significado é claro e sumamente edificante.

À medida que o probacionista persevera no Caminho, o lento despertar decorrente do desajustamento entre seus veículos é eliminado, e observará que, com o passar do tempo, o seu despertar no corpo será imediato e claro, mesmo ignorando como volta. Pode mesmo acontecer algumas vezes que simplesmente abra os olhos, sem que haja um lapso de consciência.

O Conceito Rosacruz do Cosmos, bem como outras obras de Max Heindel, apresentam ensinamentos que auxiliam o estudante no trabalho de espiritualização da consciência. A Concentração e a Retrospecção, entre outros benefícios, servem para focalizar a consciência no momento da saída e da entrada no corpo. Embora as preferências variem de indivíduo para indivíduo, existem certos temas para meditação que adquiriram um caráter quase universal, sendo um deles o símbolo metafísico do Homem Espiritual, a Pirâmide. Não queremos nos referir à Grande Pirâmide de Gizeh, mas ao sólido geométrico. É particularmente inspirador para a mente imaginá-lo luminoso.

O emblema místico que encimava a torre do Castelo do Graal no Parsifal de Wolfram Von Eschenbach é sumamente edificante. Tal castelo de estilo gótico, encerrava em uma de suas câmaras o Altar do Graal. Ornamentado fulgurantemente com esplendor quase oriental, o Castelo apresentava a sua estrutura com mágica luminosidade, realçando luzes indescritíveis. Os materiais empregados na construção eram de origem celestial, pois os Arquitetos Celestiais trouxeram-nos de planos elevados. O soalho do Templo era feito de ônix, o teto de safira, com joias colocadas em lugar de estrelas dos céus, enquanto em forma espiralada projetava-se acima da grande estrutura uma torre altíssima, em cujo topo estava o Rubi, encimado por uma Cruz de Cristal.

Tomando como tema de meditação essa torre encimada pelo Rubi e este encimado pela Cruz de Cristal, lembramo-nos das palavras de Max Heindel:

" A torre da igreja é larga na base, mas, aos poucos, vai-se estreitando até o cume, onde é um ponto suportando a cruz. O mesmo acontece com o caminho da santidade. No princípio podemos permitir-nos muitas coisas, mas, à medida que avançamos, devemos abandonar, um por um, esses desvios e devotar-nos, cada vez mais exclusivamente, ao serviço da santidade. Por fim, chegará um momento em que este caminho é tão fino como o fio de uma navalha, e aí só poderemos agarrar-nos à cruz. Porém, quando tivermos atingido esse ponto, quando pudermos subir ao mais estreito de todos os caminhos, realmente estaremos preparados para seguir o Cristo além, e servir lá como servimos aqui." (Iniciação Antiga e Moderna, Cap. VI - A Lua Nova e a Iniciação)

NOTA 1- Ann Burkhurst colaboradora da revista Rays from the Rose Cross em vários artigos. Este foi apresentado em duas partes na referida  revista nos meses de setembro e outubro de 1943  Tradução da Fraternidade Rosacruz - Sede Central do Brasil publicada na revista Serviço Rosacruz de novembro de 1966 e fevereiro de 1967. Revisão e atualização da ortografia por Rosacruz e Devoção. Aqui apresentado em três partes. 


A Consciência do Auxiliar Invisível - II

por  Ann Burkhurst (veja notas finais)  
A respeito de sonhos, esclarece-nos Max Heindel:
"Antes de aprender a deixar o corpo voluntariamente, o aspirante deve preparar o corpo de desejos durante o sono, posto que em algumas pessoas esse corpo se organiza antes que a separação do corpo vital possa ser efetuada. Sob tais circunstâncias é impossível trazer de volta à consciência de vigília essas experiências subjetivas. Mas em casos tais, e como primeiro sinal de desenvolvimento, geralmente se nota que todos os sonhos confusos cessam. Então, após algum tempo, os sonhos tornar-se-ão mais vívidos e perfeitamente lógicos. O aspirante sonhará com lugares e pessoas (conhecidas ou não, nas horas de vigília, pouco importa), conduzindo-se de forma razoável como se estivesse desperto. Se o lugar com que sonhou lhe for acessível, quando desperto, da realidade do sonho, poderá obter provas no dia seguinte se tiver anotado algum detalhe físico da cena."

"A seguir descobrirá que pode, durante o sono, visitar qualquer lugar sobre a superfície da Terra e estudá-lo muito melhor do que se lá tivesse ido em seu corpo denso, pois em seu corpo de desejos ele pode entrar em todos os lugares, a despeito de portas e fechaduras. Se persiste, dia chegará finalmente em que não precisará esperar o sono para desfazer a ligação entre os seus veículos, mas poderá libertar-se deles conscientemente." (Conceito Rosacruz do Cosmos, Cap.XVII - subt. Como os Veículos Internos são Construídos - 3ª ed. Fraternidade Rosacruz - Sede Central do Brasil)


As experiências de muitos probacionistas se enquadram nos "sonhos reais" ou "voos anímicos", Sonhos reais são acontecimentos astrais. Todavia o inteiro despertar depende do desenvolvimento do Soma Psuchicon ou Corpo-Alma que é composto dos dois éteres superiores do Corpo Vital, ou seja o Éter de Luz e o Éter Refletor.

Convém advertir: há um sonho comum em que sonhamos que estamos despertos. Ocorre com bastante frequência. Estamos no leito, dormindo, sonhando que nos levantamos, nos vestimos e estamos prontos para ir ao serviço. Nisso soa pela segunda vez o despertador (na verdade, a primeira vez) abrimos os olhos e, admirados descobrimos que nem nos tínhamos levantado, pois estávamos dormindo. O mesmo pode suceder ao neófito que sonha que está desperto como um Auxiliar Invisível. É o que Du Maurie chama de "sonhos verdadeiros", causados pelo mencionado fato de em algumas pessoas o corpo de desejos organizar-se antes da separação do corpo vital. Naturalmente tais sonhos são reais, acontecimentos astrais, mas o neófito, em tais casos, não está realmente desperto fora de seu corpo. Apenas sonha que o está, como Auxiliar Invisível. Sob tais sutis rendições, como saber se o neófito estava ou não desperto? 

Para responder à essa pergunta devemos fazer outra. Pela manhã, quando você despertou, estava mesmo desperto ou sonhando que o estava? Só poderá perceber a diferença quando se levanta, desperto. Nada sabe a respeito enquanto está sonhando. Isto a precisamente o que acontece em relação à consciência do Auxiliar Invisível. Há definição para a consciência de vigília? É descritível? Não. Apenas podemos mencioná-la, porque é uma experiência conhecida de todos.

Nossa opinião é que a maioria dos Auxiliares Invisíveis operam nesta consciência do sonho verdadeiro. Sonham real e acuradamente que são Auxiliares Invisíveis. Comparamos esse tipo de conhecimento com o do sonâmbulo que sonha que se levantou, vestiu-se e se pôs a descer as escadas. Está ele desperto, consciente, no lato sentido do termo? Naturalmente que não! Ele está apenas sonhando que está desperto. No entanto, está em condições de executor não somente as ações normais, peculiares a pessoas despertas, como também, muitas vezes, a fazer proezas que demonstram coragem e capacidade inexistentes em seu estado normal. Diz Max Heindel que o Auxiliar Invisível, à semelhança do sonâmbulo, é hábil e aparentemente inteligente em seu trabalho, mas, como o sonâmbulo que desperta subitamente, muitas vezes fica paralisado pelo medo, diante de situações imprevistas.

O vago estado do sonâmbulo é também comum ao Auxiliar Invisível que, em sentido oposto, é um sonâmbulo. A diferença é que o Auxiliar Invisível caminha, enquanto sonha, com um corpo que, de fato, se tornou um canal de ação onírica. Tal corpo é o "Soma Psuchicon" (soma psiquismo ou corpo psíquico) a que alude São Paulo, e que os Rosacruzes chamam de "o Corpo-Alma"(saiba mais aquiNeste ponto surge outra pergunta: Se tal sonho é real, será ele visível a outra pessoa que, desperta embora em seu corpo físico, disponha de capacidade visual para perceber o Mundo dos Desejos? Sim, pode e acontece. Sabemos de exemplos em que o "sonho" de um homem foi visto mentalmente por outro, à distância e no tempo comprovado, pois o sonhador despertou e olhou o relógio.

Porém, mesmo a consciência de sonho real não é a consciência média dos Auxiliares Invisíveis, em sua totalidade. Para alguns, apenas, pois eles são geralmente inconscientes. Sua lembrança, pela manhã, quando despertam, é de que simplesmente sonharam, nada mais. 

Max Heindel disse que a primeira parte (primeiras horas) do período de sono é dedicado à restauração das energias perdidas e preparação para o dia seguinte. Vejamos como ele o descreve:

"O Mundo do Desejo é um oceano de sabedoria e de harmonia. O Ego leva a esse mundo a mente e o corpo de desejos, enquanto os veículos inferiores dormem. Ali, seu primeiro cuidado é a restauração do ritmo e harmonia da mente e do corpo de desejos. Esta restauração realiza-se gradualmente, na medida em que fluem através deles as vibrações harmoniosas do Mundo do Desejo. Há, no Mundo do Desejo uma essência correspondente ao fluido vital que, por meio do corpo Vital, compenetra o Corpo Denso. Os veículos superiores mergulham, por assim dizer, nesse elixir de vida. E, após se fortalecerem, começam a trabalhar sobre o Corpo Vital deixado com o Corpo Denso adormecido. Então o Corpo Vital começa novamente a especializar energia solar, reconstruindo o Corpo Denso, e empregando especialmente o éter químico nesse processo de restauração. 

Esta atividade dos diferentes veículos durante o sono constitui a base da atividade do dia seguinte." (Conceito Rosacruz do Cosmos, Cap. III- subt.  Atividades da Vida: Memória e Crescimento Anímico) - 3ª ed. Fraternidade Rosacruz - Sede Central do Brasil)

Não nos devemos deter em sonhos comuns, embora vívidos, belos e convincentes, porque são puramente fenômenos astrais, conforme demonstramos no decorrer deste trabalho. A consciência de sonho real e desenvolvimento superior seguinte, que constitui a consciência desperta do Auxiliar Invisível, apresenta muitas armadilhas sobre as quais é de nosso dever prevenir o neófito. Tal advertência é de suma importância porque, de seu conhecimento depende a ativação dos dois éteres superiores, na formação do Soma Psuchicon (Corpo-Alma.)


Max Heindel enfatiza o ponto de que o medo poderá ser eliminado da consciência, pelo amor. Ele confessa haver encontrado nesse medo sério obstáculo nos períodos iniciais de seu trabalho Iniciativo E. recomenda ao estudante probacionista, que pensem bastante várias vezes sobre o trabalho do Auxiliar Invisível, a fim de se irem habituando com a ideia de ficarem ausentes do corpo, sem receios, porque, a estocada do medo corta imediatamente a consciência psíquica, precipitando o neófito de volta ao corpo.

Um probacionista nos conta como, na aurora de um dia, despertou com a recordação fresca e aguda de algum contato com os Irmãos da Rosacruz. Estava perfeitamente consciente e ainda sentia o penetrante perfume de rosas em seu quarto. Enquanto estava deitado, as correntes perfumadas pareciam fluir através de seu corpo, de tal forma que lhe parecia flutuar nelas. Subitamente, porém, viu que "estava flutuando” acima de seu próprio corpo que Jazia no leito. Sentiu a cutilada do medo e teve a consciência de que mergulhava no corpo. "Era como entrar numa nuvem de pontos maiores do que aqueles que vemos no ar. Quando tudo se normalizou, a nuvem se fechou sobre a cabeça, quase como acontece com a água. Ao abrir os olhos se encontrava no mundo físico.

Em outra ocasião, o probacionista mencionado no último parágrafo da primeira parte, despertou completamente consciente em Monte Ecclésia diante do Templo, o qual se apresentava radiante de luz. Tentando aproximar-se foi obstado por uma barreira invisível. Porém nesse momento, a sua atenção foi desviada em direção a um grupo de pessoas que flutuavam (assim imaginou): evidentemente empenhadas no trabalho de cura, visto que reconheceu entre elas, algumas que se dedicavam a tal mister. Todos, inclusive ele, foram impelidos ao longo daquilo que poderia ser designado como um "rio de magnetismo”, rumo ao Norte, em direção à cidade de V.

No caminho, observou que seus companheiros caminhavam e falavam normalmente, entretanto, muitos deles denotavam o olhar vago do sonâmbulo. Não tinham consciência do que estava em derredor, parecendo não notarem que se encontravam fora do corpo físico. O citado grupo e o probacionista consciente do que se passava, chegando à cidade de V., dirigiram-se a uma casa onde uma senhora de meia idade e uma menina os esperavam, sendo que estas também tinham os olhos sonambúlicos, conduziam-se normalmente como seres humanos, sem, contudo, parecerem cientes de que se encontravam fora do corpo nem manifestarem surpresa ante a chegada dos Auxiliares. (continua aqui)

NOTA 1- Ann Burkhurst colaboradora da revista Rays from the Rose Cross em vários artigos. Este foi apresentado em duas partes na referida  revista nos meses de setembro e outubro de 1943  Tradução da Fraternidade Rosacruz - Sede Central do Brasil publicada na revista Serviço Rosacruz de novembro de 1966 e fevereiro de 1967. Revisão e atualização da ortografia por Rosacruz e Devoção. Aqui apresentado em três partes.




A Consciência do Auxiliar Invisível - I

por Ann Burkhurst (veja  nota final 1)

A Fraternidade Rosacruz ensina que os
Auxiliares Invisíveis são aqueles que vivem urna vida digna, de altruísmo, durante o dia, em seus corpos físicos. Aqueles cujo desenvolvimento evolutivo já ultrapassou o do ser humano comum e conquistaram o privilégio de se tornarem úteis, durante a noite, enquanto seus corpos estão repousando, agindo em benefício da humanidade, através da instrumentalidade dos Irmãos Maiores da Rosacruz. Assim, enquanto estão funcionando em seus veículos superiores, poderão ser vistos trabalhando fielmente na Vinha do Cristo.

Os Auxiliares Invisíveis são reunidos em grupos, de acordo com seus temperamentos e habilidades, sob a orientação de outros Auxiliares que são médicos. O trabalho global dos grupos está sob a direção dos Irmãos Maiores, os espíritos propulsores da Equipe.

Max Heindel nos instruiu sobre os dois graus de Auxiliares Invisíveis: os conscientes, e os inconscientes. Estes últimos são os que trabalham inconscientemente nos mundos Invisíveis enquanto seus corpos dormem. A experiência de um Auxiliar Invisível Inconsciente pode ser comparada a um sonho que não é recordado ao despertar. Contudo, é uma experiência perfeitamente real e, como tal, forma parte do panorama da vida e é presenciada pelo Ego quando, no estado post-mortem, revive sua existência inteira. (veja mais informações aqui);

Toda evolução, incluindo a iniciação é um problema de consciência. A lagarta rasteja ao longo do galho, transforma-se em crisálida e finalmente emerge na borboleta alada, fendendo o espaço azul. São três realidades num mesmo mundo. Contudo, sob o ponto de vista de consciência a vida-borboleta passou através de três mundos diferentes. Da mesma forma o Espirito Virginal, existe somente num mundo, o Universo de Deus em sua infinita manifestação. Somos uma ideia espiritual na Mente de Deus, uma criação eternamente perfeita, que foi, é e será. No entanto, à medida que a consciência se desenvolve no caminho da evolução, parecemos passar por vários planos de mundos cada qual representando um estado particular de consciência. De cada plano, como Egos, apreendemos uma infinita variedade de sensações. Sob um aspecto vemos o Mundo de Deus à semelhança do Universo Físico que, aos cinco sentidos, parece algo inerte, sujeito à impiedosa ação das leis naturais e domínio de inteligências cruéis. 

Nesse plano físico estamos envoltas no casulo da materialidade, um corpo inerte. Podemos facilmente imaginar como nele fica cego o espirito, pela facilidade como nos afundamos na inconsciência do sono. Uma das últimas expansões de consciência é aquela que nos dá domínio sobre as horas sombrias da alma, quando o corpo dorme sobre o leito. 

E a expansão de consciência, diz Max Heindel, vem pela prática dos preceitos. 


Em que consiste essa prática? — No uso adequado das leis do pensamento. Ainda é Max Heindel quem nos diz: “A mente é o caminho”. De fato, a totalidade do caminho da iniciação está sob a direção dos Senhores de Mercúrio, cujo trabalho individualização e libertação pela razão se vai tornando cada vez mais potente na evolução humana, na medida em que seu planeta vai emergindo na Noite Cósmica. Daí que o Caduceu seja usado como símbolo de iniciação, pois uma vez que Mercúrio rege o poder da Razão pura (Gemini), bem como a Virgindade do Espírito (Virgo) puro e não contaminado pela materialidade, temos aqui a chave do completo método de desenvolvimento espiritual, tal como nos é dado pela Ordem Rosacruz.

Desnecessário é dizer que a consciência do Auxiliar Invisível, de modo algum é idêntica à do Iniciado. Todavia, é um dos aspectos subsidiários do desenvolvimento ascendente. Não se trata de uma consciência definida. Porém, já é algo maravilhoso para ser grandemente desejado por todo Aspirante a esferas mais amplas de serviço. O Auxiliar Invisível é um aspecto do esforço pelo qual a borboleta emerge com as asas pintadas do casulo da materialidade. Nesse grau temos uma noção de nosso lugar no caminho, percebendo o grau em que a luz se manifesta nos lugares sombrios da alma, durante o sono.

A consciência do Auxiliar Invisível é comparável ao Arco-Íris pelo qual os heróis ancestrais cavalgam para atingir o Valhala (vide nota no final), pois representa uma transição para a consciência espiritual e não a consciência integral em si mesma. 

Há também na consciência do Auxiliar Invisível certa gradação de conhecimento, que poderá ser avaliada quando comparada com a consciência ordinária de vigília. Observe o leitor, fisicamente, como se dá o despertar diário. Um indivíduo se desperta completamente o logo se situa em seu ambiente, reconhecendo-se perfeitamente distinto de tudo que o rodeia. Esse é um extremo. O outro é um completo despertar de consciência noturna do Ser. O Ego fica completamente desperto e consciente durante o sono, podendo observar e raciocinar, conversar com outros Seres Invisíveis, mais ou menos conscientes do que ele mesmo. Pode investigar trechos da superfície Terrena, ver a história em formação no outro lado do mundo. 

Esta última consciência é corno a completa consciência de vigília no mundo físico, porém, em ambiente diferente. "Lá", as leis da natureza nos aparecem como reflexos de nossa própria alma, são fenômenos psíquicos e não fenômenos materiais objetivos. Contudo, operando nesse estado de consciência o neófito está apto a relacionar-se com acontecimentos materiais e viajar para países estrangeiros e mesmo produzir impressões sobre o mundo da matéria. Eis porque o mundo integral da matéria é meramente um efeito de causas operantes nos mundos superiores.

Max Heindel compara o relacionamento de causa e efeito a uma imagem lançada sobre uma tela, por um estereoscópio. Se você muda o "slide", a imagem da tela automaticamente se muda. É inútil tentar mudar a Imagem sem previamente mudar o "slide", porque o "slide'', em tal caso, é o arquétipo ou a causa da Imagem projetada na tela. Ora, as coisas e circunstâncias deste mundo são as Imagens da tela. Por isso devemos aprender a primeiramente olhar o que temos na mente. Ali é que devemos mudar o arquétipo mental. Os mínimos resultados seguirão os efeitos daquela causa. Se o "slide" que introduzimos na consciência é uma imagem do mal e do sofrimento, a imagem, na tela material é correspondente. Esse é o segredo do Auxiliar Invisível a Chave da Iniciação e da Libertação final. 

A consciência do Auxiliar Invisível varia de acordo com o desenvolvimento das qualidades anímicas citadas em "O Conceito Rosacruz do Cosmos: Vida Anímica, Luz Anímica e Poder Anímico (planos superiores do Mundo do Desejo".(Veja Conceito Rosacruz do Cosmos - Cap.I subtítulo: O Mundo do Desejo) .Isso é assim explicado para atender à tendência de separação, de acordo com os conceitos de espaço e tempo que nos limitam neste mundo. Mas, as coisas espirituais têm um sentido global; e é por essa razão que, sempre que possível, o estudo da matemática e da metafísica deveriam ser cultivados.

Quando tenhamos conquistado um completo despertar nos planos internos, não haverá má compreensão a respeito. Mas até lá será comum ocorrer muita confusão e semi despertamentos poderão ser confundidos com verdadeiras experiências conscientes. Embora pareça incrível, é verdade. Muitos Probacionistas, no início de seus trabalhos, não veem a diferença entre um “sonho comum”, um “sonho consciente ou real”, isto é, a experiência de um "passeio" anímico. Certa vez foi feita uma pergunta a uma probacionista sobre seu trabalho nos planos internos, a noite. A descrição que ela fez foi a de um sonho comum ou a de um sonho real (passeio anímico?)

-“Oh, era real. eu sei que era”, - exclamou ela veementemente. - "porque depois fiz uma verificação"

A questão era saber se ela havia estado consciente quando o sonho se realizou, pois, sua descrição era de um sonho real. Mas verificamos que ela não estava consciente nessa ocasião e nem em outras ocasiões, embora conhecesse teoricamente bem estas questões.

A respeito de sonhos, esclarece-nos Max Heindel: (veja aqui a continuação)

NOTA 1- Ann Burkhurst colaboradora da revista Rays from the Rose Cross em vários artigos. Este foi apresentado em duas partes na referida  revista nos meses de setembro e outubro de 1943  Tradução da Fraternidade Rosacruz - Sede Central do Brasil publicada na revista Serviço Rosacruz de novembro de 1966 e fevereiro de 1967. Revisão e atualização da ortografia por Rosacruz e Devoção. Aqui apresentado em reês partes.


Nota 2 -Valhala, Walhala - a muralha citada em O Anel dos Deus que você pode ler no Cap. IX do livro Mistérios das Grandes Óperas (online, veja aqui)  ou adquirir o livro impresso aqui ou ainda se você é Estudante, reveja a lição 29 do Curso Suplementar de Filosofia ( O Anel dos Deuses)