Dentre os pensamentos
maravilhosos que compõem o ritual Rosacruz destacamos o seguinte: “... esforcemo-nos
por esquecer diariamente os defeitos dos nossos irmãos e procuremos servir a
Divina Essência neles oculta, o que constitui a base da Fraternidade".
Estas palavras encerram
uma exortação à busca do lado positivo de todos os seres humanos. Contudo,
podemos ir mais além, pois na realidade o ideal é procurarmos vislumbrar o bem
em todas as coisas.
Certa vez Cristo
percorria os arredores de Jerusalém em companhia de seus discípulos. Em dado
momento estes depararam com o cadáver de um cão, já em adiantado estado de
decomposição. Ante aquele quadro nauseabundo todos expressaram sentimentos de
desagrado, porém o Mestre impassível afirmou:"As pérolas não são mais
brancas que seus dentes".Esta foi uma das mais expressivas lições que o
Salvador nos legou. Contudo, não tem sido bem compreendida.
Raras vezes percebemos o
lado bom das coisas ou dos nossos semelhantes. É muito mais fácil notar as falhas
alheias do que ponderar sobre os próprios defeitos. Essa tendência negativa nos
coloca em constante atrito com os outros, formando ao nosso redor uma atmosfera
de desarmonia.
Cada ser humano é como
que um diamante a ser lapidado. Embora muitas vezes coberto por uma crosta
pouco atraente, mais cedo ou mais tarde mostrará seu brilho. Deus, o grande
lapidário dispõe de diversos meios para remover a dita crosta. Deixemos de
considerar a fealdade desta última e procuremos meditar sobre o fulgor interno.
Cada homem é uma lei em
si mesmo. Não há dois seres absolutamente iguais no mundo. Cada um renasce num
ambiente diferente, passa por experiências também diferentes, o que acentua sua
individualidade. Então, não temos o direito de querer padronizar o comportamento
humano. Cada homem encontra-se num determinado estágio evolutivo. "Até
entre as estrelas existe diferença de esplendor". É uma grande injustiça
de nossa parte exigir de todos, um ajustamento aos nossos conceitos pessoais de
ética. Nossa formação é assaz débil para aumentarmos tal pretensão. Nem sempre
nossos conceitos de bem e de mal correspondem à realidade última das coisas.
Bem é o que nos deleita, mal é o que nos desagrada. Quão restritos são tais
conceitos. Consideramos nossas aflições e experiências dolorosas como sendo um
mal, e, no entanto são elas que encerram lições marcantes, despertando nossa
consciência para uma vida mais elevada. Precisamos de muita cautela quando julgamos
os atos humanos. Eis porque destacamos a tolerância como virtude a ser
cultivada por quem anela o aprimoramento espiritual.
De um Editorial da revista Serviço Rosacruz, março de 1968