por Augusta Foss Heindel
Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes
meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus, 25:40)
Peço ao leitor que me siga até a região norte
do Canadá. É Inverno. A natureza se encontra coberta com uma bela capa
de neve. Até onde a vista possa alcançar, tudo resplandece como o brilho da prata. Estamos muito distantes dos ruídos das
cidades, nas selvas, onde o pé do homem raramente pisa e onde a vida animal
vaga livremente.
-Oh! as belezas da natureza ao bilhar do sol
sobre a neve, que pesadamente cai sobre os galhos das árvores, formando uma
espécie de dossel, sob o qual os animais procuram abrigar-se do vento gelado!
Ficamos curiosos em saber o que seriam
algumas pequenas e leves pegadas na neve
que nos conduzem para uma abertura no meio de vários ramos,
próximos de um velho pinheiro caído há muitos anos e onde um urso se resguardou
fugindo de um caçador. Sendo o pinheiro um obstáculo para a consecução do seu
intento, o caçador o derrubou e com um tiro mortal tirou a vida do urso conseguindo
assim o seu objetivo, ou seja, a pele do animal para a venda.
O tronco dessa árvore agora servia de local de recreio para algumas pequenas criaturas
acostumadas a correr entre os ramos em suas brincadeiras: um casal de arminhos
com cinco filhotes jogueteando-se ao seu redor. Esses animaizinhos são pequenos
e delgados, perto de dez polegadas, possuem pernas curtas e seus corpos são
cobertos de pelos tão brancos, que fica difícil distinguí-los em meio à neve, a
não ser por seus pequenos olhos que cintilam como negras lantejoulas. As unhas
de seus pés e o final de suas caldas são também de cor preta. São de natureza
brincalhona e estão felizes ali na selva, longe de caçadores e armadilhas.
De repente, a “mãe” emite um grito de dor.
Caiu em uma trampa. Nós não vemos a armadilha, mas o pequeno animal está
fortemente preso e oh! como agoniza! Sua rosada e pequena língua congela-se
rapidamente aderida à casca do tronco da árvore. Tinha fome e um aroma tentador
a impulsionou para aquele galho, mas ao provar o que provavelmente acreditava
ser um delicioso “bocado” para a sua prole, já
não pode tirar a sua língua. Seu companheiro foi apressadamente em seu auxílio,
mas também ele ficou fortemente preso e da mesma maneira.
Lutaram até a exaustão. Os filhotes
atravessavam ao seu redor sem compreender o que ocorria. Enquanto os pais
estavam exaustos e sofrendo, os pequenos se alimentavam no peito da mãe.
De repente se escuta o ranger de um galho e
logo vemos distante uma forma obscura. Com passos furtivos um homem lentamente
caminha através da nevasca em direção ao lugar onde, no dia anterior, havia
colocado suas armadilhas. Sua grande e tosca figura estaba vestida com uma capa
feita de grossas e escuras peles de urso; na cabeça um turbante feito com a
preciosa pele de uma raposa cinza, cuja sedosa cauda ainda ali permanecia, como
ornamento.
O rosto do caçador é coberto de uma cerrada
e extensa barba negra; seus olhos frios e cruéis são de um cinza escuro. Nunca
sentiu o amor, que pudesse suavizar o seu coração; amava somente o ouro que
poderia conseguir com a venda dos animais assassinados e torturados. Com esse
dinheiro poderia obter todo o licor e o whisky que desejasse e também comprar
outros pequenos animais que lhe supririam o alimento necessário. Que mais
poderia querer na vida? Quanto maior o número de peles vendidas, melhor poderia
manter sua natureza inferior com o único luxo que conhecia.
Ao aproximar-se do tronco caído, o caçador
sorriu cruelmente: Ah! duas presas na mesma armadilha! Com uma empedernida
crueldade arrebatou um a um os animais, deixando as pequenas línguas coladas na
casca do tronco. Com uma faca feriu a veia jugular dos pequenos e depois de
deixá-los sangrando por alguns minutos meteu-os em uma sacola que carregava, já
com a alguma outra caça.
Pouco tempo depois do caçador ter-se ido com
seu “prêmio”, cinco pares de negros olhinhos começaram a espreitar pelas
ramagens de um pinheiro próximo. Os cinco filhotes tiveram o valor de retornar
ao lugar onde ultimamente tinham se amamentado. A “mamãe” já não estaba mais
ali. Somente as linguas sangrentas para contar a história. A noite se
aproximava e ninguém para alimentá-los. Passaram-se os dias e por fim a fome e
o frio venceram. Morreram.
Agora, sigamos o caçador e suas vítimas. Ele
luta através de muitas nevascas. Levanta novamente o fuzil e apontando para
algo a distância obtém uma nova vítima; agora uma preciosa lebre de olhos cor
de tabaco. Isto lhe dará alimento por algum tempo. Não lhe passa na mente que os filhotes
morrerão de fome. Ele, o homem, conseguiu seu alimento, então que lhe importa
os demais?
Por fim chegamos a um casebre de madeira. Ao
entrar encontramos todas as paredes cobertas de peles que estão “curando” para
adquirirem preço para a compra do whisky e do tabaco.
Sigamos agora, as peles. São vendidas a
algum traficante que as embarca com destino a grandes peleteiros. As vemos de
novo, agora, nos aparadores de um grande estabelecimento em uma grande cidade,
todos decorados com peles de distintos animais. Ao entrar encontramos sentada
frente a um espelho uma fina e bela mulher de rosadas bochechas. Suas suaves e
pequeñas mãos estão acariciando algo: Oh! que suave e como brilha essa pele
branca com as caudas negras em sua extremidade, que tanto ornamentam quanto
demonstram a sua legitimidade! Depois de pagar uma alta soma pela vestimenta,
sai adornada com as peles de centenas de animais impregnadas das vibrações dos
torturados corpos.(1)
“Oh!, como geme o Espírito de Cristo,
aprisonado na Terra! Oh! irmãs, esposas, mães, não escutam vocês os gritos
destes animais torturados? Vocês também são culpadas de suas mortes, enquanto
usarem esse tipo de vestimenta. Não fosse por suas vaidades, a crueldade desses
assassinatos terminaría. Enquanto as mulheres continuarem usando plumas e peles
de animais assassinados e preparando os corpos desses pequeninos seres como
alimento, tampouco as guerras e o derramamento de sangue terminarão.
Há alguns anos, quando em visita a uma das
cidades grandes, fui levada a assistir a uma conferência demasiadamente
anunciada, que seria dada por uma mulher mundialmente conhecida como guía
metafísica e espiritual, representante de uma grande organização que ensinava o
vegetarianismo e animava seus estudantes a refrearem-se quanto ao uso da carne
como alimento. O Teatro de Opéra estava lotado e quando a conferencista se
apresenta tivemos um sobressalto ao observar a uma bela mulher ataviada com um
abrigo quase que totalmente coberto com as peles daqueles animaizinhos!
O adorno branco e negro era de grande efeito
e atraía a atenção daqueles que só veem a “beleza”, mas para aquela que
escreve, a conferência estava arruinada.Nunca mais assistimos a qualquer atividade
auspiciada por alguém que se considera espiritual; que ensina a Lei do Renascimento
e a Lei de Consequência; que fala de compaixão e amor fraternal, e continua, no
entanto, a tolerar a tortura dos animais.
Cada um de nós, a seu devido tempo, seremos
guiados para o sofrimento e para a dor, através do caminho da cruz, inconsciente
das dívidas de destino que acumulamos em nossa jornada. Como disse Angelus
Silesius:
"Ainda que Cristo nasça
mil vezes em Belém,
Se não nascer dentro de ti, tua alma ficará
perdida.
Em vão olharás a Cruz do Gólgota
A menos que dentro de ti,
ela seja novamente erguida."
CREDO OU CRISTO (Max Heindel no Conceito Rosacruz do Cosmos)
Não ama a Deus quem ao semelhante odeia;
espezinhando-lhe a alma e o coração;
aquele que algema, nubla ou tolda a mente
pelo medo do inferno, não entendeu a divina direção.
Todas as religiões são abençoadas e mandadas por Deus;
e Cristo, o Caminho, a Verdade, a Vida,
foi enviado por Ele para aliviar o pesado fardo
do triste, do pecador, dando-lhes a paz pedida.
Eis que o Espírito Universal veio
a todas as igrejas e não a uma somente;
No dia de Pentecostes, uma língua de chama brilhante
envolveu cada apóstolo, em um halo cintilante.
Desde então, como abutres famintos,
por um nome vão, muitas vezes vamos lutar,
procurando com dogmas, éditos ou credos,
uns aos outros às inextinguíveis chamas enviar.
Cristo então é dois? Foram Cephas, Paulo,
para salvar o mundo, à cruz pregados?
Por que então existem, aqui, tantas divisões?
Se pelo amor de Cristo todos somos abraçados.
Seu amor puro e doce não está limitado
a credos que segregam e muros que levantamos.
Seu amor envolve todos e abraça a espécie humana
não importa como a nós ou a Ele O chamamos.
Por que então não aceitá-Lo na Sua doce palavra?
Por que manter credos que trazem desuniões?
Uma só coisa importa e deve ser ouvida!
Que o amor fraternal encha todos corações.
Mas há ainda uma coisa que o mundo precisa saber;
há um só bálsamo para toda a humana dor,
há um só caminho que conduz ao céu,
este caminho é a solidariedade humana e o amor.
De uma lição aos estudantes de agosto de 1948
(1) Nota de Rosacruz e Devoção: Para um casaco de porte normal são necessárias peles de 125 arminhos!