04/08/2018

O Rosacrucianismo de Fausto

Volksbuch do final do século XVI, sobre Fausto
No final do artigo uma tradução  realizada por amigo do autor
por Jonas Taucci
Caminhar pelas ruas da cidade bávara de Munique (Alemanha) na primavera, é algo inesquecível; recorda-nos de que, por estas terras, teria (ou não) existido uma pessoa (médico, alquimista e astrólogo) de nome Johann Faust, por volta de 1.480 a 1.540.

Em termos de literatura, a vida deste Faust foi narrada em obras de nome Volksbuch (livro do povo), escrita anonimamente por volta de 1.588, em Frankfurt, também na Alemanha, e descreve contos, mitos e lendas populares.

A partir daí seguiu-se, cronologicamente:

*** Christopher Marlowe (1.564-1.593), poeta, artista, tradutor, dramaturgo e escritor inglês, formado pela The King School e Corpus Christi College, sendo bacharel em artes, escreve várias obras, entre elas; A trágica história da vida e morte do doutor Faustus, inspirada com certeza, no Volksbuch.

Esta obra de Christopher Marlowe teve duas edições; distintas e publicadas após a sua morte:

1ª – Ano 1.604, com 1.517 versos.  
2ª – Ano 1.616, com 2.121 versos.

Em ambas, (escritas para serem representadas, e não para circularem em forma de livro), Marlowe cita os personagens Faustus e Mefistófeles. 

Frontispício da obra de Marlowe, início do século XVII; 

*** Johann Wolfgang von Goethe (1.749-1.832), foi um dos expoentes do movimento literário romântico alemão. Escreveu várias obras e também livros sobre ciências naturais. Talvez a sua obra mais conhecida seja “Fausto”, escrita:

1) Em fragmentos, no ano de 1.790.
2) Uma segunda parte escrita em 1.808.
3)  A última parte, em 1.832.

Nela, Goethe narra a história de Fausto, que vende sua alma à Mefistófeles, tal qual Christopher Marlowe e o Volksbuch descreveram, aproximadamente dois séculos antes.

 Fausto”, de Goethe – ano 1.808

*** Início do século XX - Max Heindel, (Conceito Rosacruz do Cosmos, capítulo IIIO homem e o método de evolução, parte O sangue: veículo do ego), diz ser Goethe um iniciado, e em sua obra Mistérios das Grandes Óperas, o Sr. Heindel dedica os seis primeiros capítulos à Fausto de Goethe, revelando que a história de Fausto é um mito tão antigo quanto a humanidade”, e dá-nos uma interpretação rosacruz; profunda , esclarecedora e maravilhosa.

Seria impossível – num texto – dissertar sobre esta interpretação à luz dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, mas vamos abordar um trecho, onde Fausto diz:

“Duas almas, oh! moram dentro de meu peito.
E aí lutam por um indivisível reino;
Uma aspira pela terra, com vontade apaixonada
Às íntimas entranhas ainda está ligada.
Acima das névoas, a outra aspira, de certeza,
Com ardor sagrado por esferas onde reine a pureza.”

Trata-se do embate entre nosso Eu Inferior e Eu Superior - no dia a dia - em relacionamentos com os semelhantes (principalmente os parentes), através de pensamentos, palavras e ações, embate este de sucessivas vidas objetivando um amadurecimento espiritual.  Max Heindel nos fala sobre os dizeres acima, de Fausto: “...quanto mais ardente persistimos na procura do Graal, mais violenta é esta luta interna”.


Gravura para uma edição espanhola da obra “Fausto” 
datada de 1920 (Biblioteca de Madri)

Penso que inexiste família em que não haja uma pessoa considerada aquela que é causa de dissabores, constituindo-se num problema para todos”.

Esta pessoa - e exatamente esta - é aquela a que Cristo refere-se como “era forasteiro e me hospedastes (Mateus 25:35). A ela devem ser inesgotáveis nosso amor e auxilio (a luta interna em resistirmos a isso é violenta, repetindo os dizeres de Max Heindel...). 

Este princípio – forasteiro/hospedagem – expressado por Cristo, devemos aplicar também em nossos círculos de amizades, local de trabalho, práticas espirituais, de lazer, etc..Apenas a prática – e não o conhecimento - deste sacro princípio nos fara vencer a batalha interna. A persistência neste trabalho alquímico; a abrangência de nosso Eu Superior, nos fará dizer – em alguma de nossas vidas - como Paulo: Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.” (2ª Epístola a Timóteo 04:07).

Quando vermos (e tratarmos) nossos irmãos como Cristos, estaremos dando um gigantesco salto para que esta luta interna seja vencida pelo reino da pureza, tal qual diz Goethe, pela boca de Fausto.