Volksbuch do final do século XVI, sobre Fausto
No final do artigo uma tradução realizada por amigo do autor
por Jonas Taucci
Caminhar pelas ruas da
cidade bávara de Munique (Alemanha) na primavera, é algo inesquecível; recorda-nos
de que, por estas terras, teria (ou não) existido uma pessoa (médico,
alquimista e astrólogo) de nome Johann Faust, por volta de 1.480 a 1.540.
Em termos de literatura, a
vida deste Faust foi narrada em obras de nome Volksbuch (livro do povo), escrita anonimamente por
volta de 1.588, em Frankfurt, também na Alemanha, e descreve contos, mitos e
lendas populares.
A partir daí seguiu-se,
cronologicamente:
*** Christopher Marlowe
(1.564-1.593), poeta, artista, tradutor, dramaturgo e escritor inglês, formado
pela The King School e Corpus Christi College, sendo bacharel em artes, escreve
várias obras, entre elas; “A trágica história
da vida e morte do doutor Faustus”, inspirada com certeza, no Volksbuch.
Esta obra de Christopher
Marlowe teve duas edições; distintas e publicadas após a sua morte:
1ª – Ano 1.604, com 1.517
versos.
2ª – Ano 1.616, com 2.121
versos.
Em ambas, (escritas para
serem representadas, e não para circularem em forma de livro), Marlowe cita os personagens
Faustus e Mefistófeles.
Frontispício
da obra de Marlowe, início do século XVII;
*** Johann Wolfgang von
Goethe (1.749-1.832), foi um dos expoentes do movimento literário romântico
alemão. Escreveu várias obras e também livros sobre ciências naturais. Talvez a
sua obra mais conhecida seja “Fausto”, escrita:
1) Em fragmentos, no ano
de 1.790.
2) Uma segunda parte
escrita em 1.808.
3) A última parte, em 1.832.
Nela, Goethe narra a
história de Fausto, que vende sua alma à Mefistófeles, tal qual Christopher
Marlowe e o Volksbuch
descreveram, aproximadamente dois séculos antes.
*** Início do século XX - Max Heindel, (Conceito Rosacruz do Cosmos, capítulo III – O homem e o método de evolução, parte O sangue: veículo do ego), diz ser Goethe um iniciado, e em sua obra Mistérios das Grandes Óperas, o Sr. Heindel dedica os seis primeiros capítulos à Fausto de Goethe, revelando que “a história de Fausto é um mito tão antigo quanto a humanidade”, e dá-nos uma interpretação rosacruz; profunda , esclarecedora e maravilhosa.
Seria impossível – num
texto – dissertar sobre esta interpretação à luz dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, mas vamos abordar um
trecho, onde Fausto diz:
“Duas
almas, oh! moram dentro de meu peito.
E
aí lutam por um indivisível reino;
Uma
aspira pela terra, com vontade apaixonada
Às
íntimas entranhas ainda está ligada.
Acima
das névoas, a outra aspira, de certeza,
Com
ardor sagrado por esferas onde reine a pureza.”
Trata-se do embate entre
nosso Eu Inferior e Eu Superior - no dia a dia - em relacionamentos com os
semelhantes (principalmente os parentes), através de pensamentos, palavras e
ações, embate este de sucessivas vidas objetivando um amadurecimento espiritual. Max Heindel nos fala sobre os dizeres acima, de
Fausto: “...quanto mais ardente
persistimos na procura do Graal, mais violenta é esta luta interna”.
Gravura
para uma edição espanhola da obra “Fausto”
datada de 1920 (Biblioteca
de Madri)
Penso que inexiste família em que não haja uma pessoa considerada “aquela que é causa de dissabores, constituindo-se num problema para todos”.
Esta pessoa - e exatamente esta - é aquela a que
Cristo refere-se como “era forasteiro
e me hospedastes” (Mateus 25:35). A ela devem ser inesgotáveis
nosso amor e auxilio (a luta interna em resistirmos a isso é violenta,
repetindo os dizeres de Max Heindel...).
Este princípio –
forasteiro/hospedagem – expressado por Cristo, devemos aplicar também em nossos
círculos de amizades, local de trabalho, práticas espirituais, de lazer, etc..Apenas
a prática – e não o conhecimento - deste sacro princípio nos fara vencer a batalha interna. A
persistência neste trabalho alquímico; a abrangência de nosso Eu Superior, nos
fará dizer – em alguma de nossas vidas - como Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.”
(2ª Epístola a Timóteo 04:07).