À LUZ DA SABEDORIA POPULAR por Delmar Domingos de Carvalho
“A essência da trova popular, como do rifão ou do provérbio, é ser, pela sua simplicidade, universal e eterna”.
Afrânio Peixoto
Perde-se na noite dos tempos, ou melhor ainda, está registado no incomensurável Arquivo da Memória da Natureza, o uso dos provérbios, dessas maravilhosas sentenças, que, em poucas palavras, comunicam profundas verdades, algumas com sentido esotérico.
Embora fazendo parte das diversas culturas, e sem sentido algum de superioridade da ocidental em relação a outras, façamos, todavia, uma viagem sobre esta área pelas culturas judaica e cristã.
Quando lemos o Antigo Testamento, eis o Livro dos Provérbios. Trata-se de uma coleção de máximas, plenas de sabedoria, oriundas de sábios, entre eles, do célebre Salomão.
A palavra hebraica que foi traduzida por provérbio é “mashãl”. Se analisarmos a sua relação com o outro termo deste idioma, “mshl”, que quer dizer governar, eis que podemos concluir que para governar é necessário ser-se sábio, o que exige experiência rica ao longo da evolução.
Se analisarmos outros livros, tanto do Antigo Testamento como do Novo, lá encontraremos numerosas máximas, algumas usadas, magistralmente, por Cristo.
Na Profecia de Habacuc, em 2-6, a palavra hebraica, “hidhâ”, traduzida por provérbio, significa, enigma.
No Novo Testamento surgem-nos as palavras “parabole” e “paroimia”, traduzidas por provérbio, palavras que expressam a existência de algo esotérico aí encerrado, com ideais elevados, que estão ocultos.
No caso presente do nosso tema, procuremos algumas dessas máximas. No Livro dos Provérbios, 22-8, eis: “Aquele que semeia o mal, recolhe a desgraça”. Todavia, em 22-9, lemos: “O homem misericordioso será abençoado”, e, anteriormente, no capítulo l5 – l: “a resposta branda aplaca o furor, enquanto a palavra dura aumenta a ira”. Antes ainda em 11-27: “ O que procura o bem, atrai o favor, o que busca o mal, será por ele oprimido”.
Contudo, logo em l chama à atenção que o vício acaba por matar o que o tem, lembrando mais à frente que comeremos os frutos das nossas obras.
Daí Cristo ter dito: “ O que semearmos, colheremos”.
E o que diz a sabedoria popular em muitos adágios sobre esta Lei que está unida à dos Renascimentos?
E qual terá sido a sua origem ou quais serão as suas fontes? Não terão bebido em várias, ao longo da evolução? Uma delas terá origem na comunicação oral pelos poetas trovadores, muitos deles fugidos às perseguições dos inquisidores, estes sempre contrários à Luz da Verdade.
Sim, nesta Escola de Iniciados, à qual muito se deve, quanto nos legaram em suas doutas mensagens nas suas trovas, desde Dante até Camões, ao sábio rei D. Dinis, a tantos e tantos cujos nomes desconhecemos, que viveram na corte do sábio rei Afonso X, como nas Casas de Sabóia, Bolonha como nas cortes feudais da Ocitânia até à corte do imperador alemão Francisco II?!
E assim nós encontramos nos provérbios, ora belas quadras populares, à moda trovadoresca; ora máximas com profundo significado ao qual, na maior parte das vezes, nem damos o devido valor ou interpretamos de acordo com a nossa face da verdade; ou até achamos que não têm importância alguma…
Quando o ditado afirma que “cá se fazem, cá se pagam”, quantos não defendem que isso está errado, pois veem os bons sofrerem e os maus gozarem?! Esquecem-se de um outro que nos lembra que “os moinhos de Deus moem devagar, mas seguros”....
Tudo tem o seu tempo, a sua hora, não por vingança que essa não existe nem no plano cósmico, muito menos em Deus ou em Cristo, mas unicamente que estamos sujeitos à Lei da Causa e do Efeito, pois “se semearmos ventos, colheremos tempestades”.
Numa era em que campeia a intriga e a irresponsabilidade, a culpa é sempre dos outros, nunca é nossa, este e outros provérbios pouco dizem a muitas pessoas. Para elas o que importa é uma boa conta, bens terrenos, comer e beber à vontade, gozar a vida, e se estiver doente, a genética e não só até será capaz de resolver milagrosamente os seus problemas.
Na realidade, estamos enganando-nos a nós mesmos e a enganarmos os outros.
Neste campo Cristo foi bem claro, quando curou o paralítico de Betesda: “Não tornes a errar para que não te aconteça algo pior”. Isto é, ou aprendemos a viver de acordo com as sábias Leis da Natureza ou Divinas, ou os picos das roseiras nos farão sangrar até que aprendamos a florir as rosas no nosso interior.
E como muitas das sementes que vamos irradiando desde pensamentos a sentimentos e atos somente daqui a muitos anos é que surgirão, florindo, se foram belas; ou daninhas e de joio, se foram de má qualidade. Muitas delas exigem vidas e mais vidas, consoante a nossa conduta no presente, graças ao nosso livre arbítrio, embora limitados ao passado evolutivo individual e coletivo.
Lembremos alguns desses provérbios: “O que abusa do poder, tarde ou cedo o perde”. Daí cuidado com o uso desta prerrogativa: o poder deve servir para melhor servir os outros e jamais para nós ou para os nossos, mas para todas as pessoas, todas as ondas de vida.
Outro lembra-nos que “quem mal faz, nele jaz”. Por isso, façamos o bem, senão...receberemos a seu tempo, os tais picos das roseiras, pois “onde as fizeres, aí as pagarás”.
Vamos, então, “semear virtudes, e colheremos glórias”, isto, em vez de semearmos ventos, senão aí estão as tempestades por toda a parte, porque não esqueçamos que “ninguém deve fazer o mal, à espera que lhe suceda o bem”.
Nesta hora, vamos é dizer bem dos outros e procurar o bem em tudo e em todos, porque “boa fama granjeias, dado que já não dizes mal das vidas alheias”.
E porque a “quem Deus não açoita é sinal que não perfilha” cuidado e muito cuidado com fazer somente o que lhe apetece e não o que deve, pois neste caso o débito no plano cósmico aumentará e não há hipótese de pedir empréstimos para o saldar...
Em suma, cada qual com o seu carácter gera o seu destino individual e porque estamos ligados por laços diversos ao longo de miríades de anos em que já temos a mente e como tal somos responsáveis pelo que nos sucede, a muitos milhares de outros seres humanos, no fundo a todos eles, eis que surge ainda o destino coletivo.
Só que na Natureza impera o Amor, há sempre um influxo de novas e originais causas, podemos e devemos usar o livre arbítrio para melhorar-nos a nós mesmos e o meio ambiente geral, podemos e devemos usar o poder epigenésico para criarmos algo melhor para todos, podemos e devemos aprender a fazer o exame de consciência, à noite, antes de dormirmos e sentirmos o mal que fizemos, como o bem, e no caso de termos ferido alguém temos que pedir desculpa diretamente a quem ofendemos e se tal atitude fez com que o seu bom nome ficasse publicamente mal tratado, devemos assumir os nossos erros publicamente até saldar, senão...; no caso, de, por exemplo, termos roubado, podemos arrepender-nos sinceramente, todavia, se não entregarmos o que roubámos à pessoa ou às pessoas que mal tratámos, pois continuaremos a estar sujeitos a sermos roubados na mesma proporção.
Não esqueçamos que, no plano divino nada escapa....nada mesmo, os moinhos moem muito seguros.
É HORA DE LHE DARMOS BOA FARINHA E BONS FERMENTOS.