por Gilberto Silos
A Fraternidade Rosacruz — Sede Central do Brasil realiza suas
reuniões devocionais aos domingos, às 17h00min, quando um probacionista
previamente designado pelo conselho esotérico profere uma exposição com temas
que, de modo geral, versam sobre o Cristianismo. Após a reunião, às 18h30min
horas, como ocorre em todos os dias da semana, é oficiado o Ritual do Serviço
do Templo (ou Ritual do Serviço de Cura, caso seja a data correspondente). (*).
Recomenda-se aos estudantes que, na medida do possível, assistam
a essas reuniões, se bem nem todos possam fazê-lo dado a obrigações ou
compromissos intransferíveis. Cabe-nos observar, também, o cumprimento de
nossos deveres sociais.
Àqueles impossibilitados de frequência há outra alternativa,
aliás, extensiva a todos: efetuar a pratica devocional no recesso do próprio
lar. Quando surge uma boa oportunidade de recolhimento, não devemos deixá-la
escapulir. Retiremo-nos para um cômodo tranquilo, preferencialmente isolado.
Ali podemos orar, entregar-nos à leitura de temas bíblicos, meditar aos acordes
suaves de uma melodia sacra, etc. Enfim, cada um poderá, a seu talante, compor
a sua própria prática devocional.
Todavia, é importante ressaltar: isso tudo é devoção, mas a
devoção não é só isso. Para assumir sua integralidade e produzir frutos ela
deve transpor os limites formais das práticas acima mencionadas, ganhando corpo
como VIVÊNCIA DEVOCIONAL. Entremeada de altos e baixos, a caminhada do
aspirante não se fortalecera e consolidará enquanto não se alicerçar em uma
VIVÊNCIA DEVOCIONAL.
Alguns estudantes às vezes se queixam - e isso acontece desde o
tempo de Max Heindel - de que, apesar de estudarem com afinco a Filosofia
Rosacruz, notam ser muito lento seu progresso. Com o correr do tempo, passam até
a achar as lições repetitivas e monótonas. Um estudante, certa vez, escreveu a
Max Heindel, afirmando que, em sua opinião, as cartas mensais dirigidas aos
membros da Fraternidade, nada mais eram que "pequenos agradáveissermões". Na verdade, ele estava era sequioso de novidades e mistérios.
Não lhe importava extrair, dos textos, uma lição de fundo moral.
Fatos como esse, ocorrem com quem julga ser a Filosofia
Rosacruz, apenas e tão somente um conglomerado de conhecimentos, formando um
sistema filosófico estruturado em bases coerentemente racionais e lógicas. Não
conseguem transcender sua intelectualidade, penetrando naquilo que ela tem de
mais grandioso: sua capacidade de transformar, para melhor, o íntimo do ser
humano. Admitindo como notável a sua racionalidade, não lhe atribuem, talvez,
aquele essencial caráter de religiosidade, capaz de permitir ao aspirante, o
reencontro com sua real natureza, isto é, a re-ligaçâo com o Eu Superior.
Conceituam a Rosacruz pela óptica unilateral do intelectualismo. Não se lhes
avulta, portanto, a perspectiva daquele equilíbrio tão enfatizado em lições,
cartas, palestras: a união da mente com o coração, do intelecto com a devoção.
Nossa carreira, como estudantes rosacruzes, depende,
inicialmente, e em grande extensão, da aquisição de conhecimentos. Através dos
cursos, livros, conferências, temos acesso ao chamado "conhecimento
indireto". As informações concernentes à origem, evolução e futuro
desenvolvimento do homem e do mundo, abrem-nos horizontes mais amplos.
Orientam-nos. Dão-nos mais segurança na escalada desse íngreme caminho
evolutivo, pela certeza infundida de que leis sábias regem o Universo, de cujo
contexto somos parte integrante.
Mas é importante não esquecermos: essa é a primeira fase. É o
passo inicial. A compreensão das verdades conhecidas deve fazer soar a corda do
amor no mais recôndito do nosso ser. Satisfeita a mente com o logismo Rosacruz,
o coração deve vibrar numa vivência superior de serviço amoroso ao próximo. Sem
isso não há progresso espiritual.
Na Escola Rosacruz não podemos prescindir do conhecimento
intelectual. Este, todavia, deve ser assimilado, digerido, trabalhado pelo
coração e transformado em sabedoria. A verdade não assimilada é inútil. Apenas
acrescenta-se ao nosso cabedal de conhecimentos. Mas se vivida, sentida,
intuída, esta sim nos transforma em novas criaturas. Torna-se parte de nossa
própria natureza. Converte-nos em sal da terra e luz do mundo. É sabedoria no
mais profundo sentido do termo.
O conhecimento intelectual puro e simples constitui meio e não
um fim em si mesmo. É elemento valioso como orientação e esclarecimento. Mas
não deixa de ser informação. Informação apenas. Um computador também pode
acumular informações. Toneladas de informações. Tal, porém, não o transforma em
sábio. Há pessoas dotadas de vastíssimos e detalhados conhecimentos. São
verdadeiras enciclopédias ambulantes. Outras há que, superficialmente, só
memorizam datas e frases feitas. São verdadeiros computadores ambulantes.
A aplicação do conhecimento na vida prática, sempre objetivando
beneficiar o próximo e aperfeiçoar as coisas, configura, realmente, uma
vivência devocional. Fazer tudo o melhor possível — seja lá o que for — para
maior glória de Deus, sem preocupação com os resultados, é imprimir um cunho
superior à vivência devocional. A menos que nos esforcemos desse modo,
continuaremos sendo como "sinos que tinem". Se não temos amor e não o
empregamos a serviço dos demais, de nada nos valerá conhecer os
"mistérios".
Quem vive devocionalmente a Filosofia Rosacruz não a julga
repetitiva. O dia-a-dia sempre lhe oferece novas oportunidades de servir com
amor, pela utilização dos ensinamentos recebidos. Não vive desesperadamente à
cata de novidades. A novidade, ele a encontra na constante descoberta interna
daquilo que vivência. Mas isto requer penetração além do estudo superficial.
Demanda uma disposição para descobrir a harmonia, a beleza, o DIVINO, enfim,
nas pessoas e nas coisas. Quando nos sensibilizamos ao sorriso de uma criança,
ou ao colorido delicado de uma flor, estamos vivendo devocionalmente. A emoção
que nos desperta o som natural emitido por um regato em seu fluir preguiçoso. O
sentimento de empatia que nos envolve à vista do sofrimento alheio,
estimulando-nos a estender a mão ao nosso semelhante. Quando do sentimento
passamos à ação. O cultivo do bom, do belo, do verdadeiro. A tudo isso chamamos
de vivência devocional.
Talvez, na compreensão dessas coisas, aparentemente simples,
encontrem, os estudantes, as resposta aos seus problemas. É um tema merecedor
de apurado exame.
Relacionados:
A Necessidade de Devoção
publicado na Revista Serviço Rosacruz, Janeiro, 1978
(*) O primeiro parágrafo deste texto foi alterado pela editora do blog, uma vez que o horário das reuniões devocionais na Fraternidade Rosacruz - Sede Central do Brasil foi modificado depois do ano 2000.Relacionados:
A Necessidade de Devoção