10/12/2011

O Natal e Nós


Novamente o Natal. Sempre os mesmos enfeites coloridos, as músicas, o movimento de compras, os presentes, as ceias, os sinos, os cumprimentos.

Porém, jamais nos encontra iguais. O desenvolvimento e os frutos da última colheita nos acrescentaram "algo" ao íntimo, nos tornaram um pouco mais amadurecidos animicamente. Portanto, o íntimo que vê, que discerne, que sente, que avalia, CONCEBE um natal um pouco mais profundo e ora até as lágrimas para que o doloroso parto se complete: o nascimento do Cristo Interior.

Quanta resistência ainda em o mundo exterior e interior, para o Reino prometido!

Herodes reage enciumado. Ele compreende que o Reino do Príncipe salvador não é deste mundo, mas também não ignora que não pode servir e ser servido. UM será o regente e o outro o servidor. E como Paulo, nos embates da iniciação, sente aumentar o conflito entre a matéria e o espírito, entre as trevas e a luz.

Procura-nos o ponto sensível o "calcanhar de Aquiles", o ponto fraco no costado de Siegfried, para que sucumbamos uma vez mais anestesiados ao ardil de Loges. A verdade, chorosa, adiará uma vez mais, a ansiada união.

Enquanto os sinos tocam parece-nos ouvir um galo cantar, lancinando-nos a consciência ao apelo do Senhor rejeitado. Quantas aspirações mortas em pleno florescimento! Mas, assim mesmo, graças elevamos porque, no silêncio do mais íntimo recôndito, inda vive nosso Salvador, prudentemente aguardando que envelheça e morra nosso egoísmo e lhe suceda, a pouco e pouco, algo melhor.

Natal! Quanto mais te compreendo mais almejo te realizes em mim!

Natal! Ainda temo falhar como Pedro. Ainda urdo as manhas de Judas, ainda falho na resolução de Paulo, ainda estou precisando de forças para renunciar às três tentações de meu deserto, ainda tenho de fazer esperar o meu Senhor!

Natal! O exterior canta em movimentos, em cores e sons. Mas o interior chora no entendimento cada vez mais agudo de uma realização que se protela.

“Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, s
e não nascer em ti, tua alma estará perdida.
Em vão olharás a cruz do Gólgota,
até que ela dentro de ti mesmo, seja erguida”. 
 (Angelus Silesius)

publicado na revista Serviço ROSACRUZ , Dez, 1968

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