23/02/2021

Ver Com os Olhos da Alma

por Gilberto Silos

Outro dia conversei pelo WhatsApp com um velho amigo. Há muito não nos comunicávamos. Coisas da vida. Cada um no seu caminho. Problemas existenciais nos mantiveram olhando apenas para nossos umbigos. Interesses. Compromissos. Planos frustrados.  Expectativas. Cada um no seu paraíso ou no seu inferno. Habitualmente convivendo com os dois e lutando por um saldo positivo no final. E, segue a vida…

 

O assunto predominante foi a pandemia e suas restrições no cotidiano das pessoas. Porém, ele me confessou a descoberta de aspectos positivos nesse isolamento forçado. Um deles é o tempo que lhe sobra para observar e ouvir mais atentamente o mundo restrito que o cerca. Coisas simples, corriqueiras. Tão banais que passavam desapercebidamente pelos seus dias. Coisas aparentemente pequenas, como observar o comportamento leal e as reações quase humanas do seu cão. A rotina da casa, como as tarefas de cozinhar, lavar, higienizar, podar a roseira, pintar a janela da edícula. Como esses afazeres podem ser gratificantes se feitos com atenção, consciência, e neles encontrarmos um significado. Dar atenção às crianças, conversar com os idosos, mesmo para ouvir aquelas histórias de sempre. No fundo, um exercício de paciência, de generosidade. Talvez aprender a ouvir mais e falar menos. Perceber a existência de “algo divino” no interior das pessoas. Sentir-se uno com esse “algo divino”.

 

Em determinado momento meu amigo revelou ter aprendido a observar melhor o céu.  “Há muito tempo eu não prestava atenção ao céu”. Fascinei-me com o brilho e limpidez do seu azul. Admirei o contraste com as nuvens brancas. Nunca notara antes. Observação que quase me levou a um êxtase ou arroubo. Descobri significados nunca anteriormente imaginados. Não sei se você vai me entender, pois trata-se de uma experiência interna, única, pessoal”.

Encerramos a conversa e eu fiquei matutando sobre tudo o que acabara de ouvir. Decidi, então, a partir de hoje, observar melhor o pôr do sol. Se possível com os olhos da alma. Se possível…


03/02/2021

Sobre Amizade e Discernimento

por Jonas Taucci

Com certeza, as pessoas que tiveram seus primeiros contatos com os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, – sejam presencialmente, online, livros, folhetos etc. – e sentiram uma identificação com os mesmos, tornaram-se membros ou simpatizantes. Comigo não foi diferente.

 

Entretanto houve um outro fator que me fez ingressar na Fraternidade Rosacruz, naqueles anos 70: O comportamento de seus membros, dentro e fora dos Centros Rosacruzes; a educação, fidelidade aos Ensinamentos, cordialidade, e sobretudo a prestação de serviço. Dou testemunho de ter visto os irmãos irem visitar enfermos, custear remédios, arrecadar agasalhos para desabrigados, levar uma palavra amiga a doentes em hospitais. Enfim, esse era o quadro que encontrei em minhas primeiras visitas a estes Centros Rosacruzes.

 

Quando fui convidado pela estimada amiga Maria Lázara Franzini, a escrever artigos para este blogue, aceitei e disse a ela que iria, também, prestar uma homenagem às pessoas que encontrei na Fraternidade (e convivi por décadas), tendo já partidas para os Planos Internos. E assim tenho feito.

 

Foram os melhores amigos(as) que encontrei  na vida. Transmitiam os Ensinamentos Rosacruzes em suas palestras ou textos, entretanto o comportamento destes irmãos era uma extensão desta divulgação. 

Evidente que sinto muita saudades deles, contudo há algo que me conforta:  Filosofia Rosacruz em perguntas e respostas – Volume I , de Max Heindel;

 

- As perguntas 56 e 57, versam no mesmo tema – Encontraremos e reconheceremos os bem-amados que passaram através do portão da morte? Fica a sugestão para consulta.

 

O probacionista João Augusto, jamais proferiu uma palestra, jamais oficiou um Ritual (esteve presente em várias centenas deles); considerava-se tímido para isto. Contudo, este irmão – até onde sei – foi o que mais esteve na CASA DO ESTUDANTE (cidade de Campos do Jordão – SP).

 

Jamais a passeio!

 

Trabalhou na manutenção elétrica, hidráulica, pintura, alvenaria etc. de uma forma abnegada. Aqui em São Paulo, visitava com frequência hospitais, mesmo não conhecendo os pacientes, sempre levando uma palavra de ânimo e estímulo. Vários remédios, alimentos e roupas este irmão distribuiu a pessoas carentes.

 

Fazia algo sui generis”: aos domingos pela manhã, percorria várias bancas de jornais da cidade de São Paulo, solicitando – e sempre sendo atendido – a que os jornaleiros inserissem nos jornais dominicais e revistas semanais, folhetos da Fraternidade e a revista Serviço Rosacruz. Sem dúvida, um material de excelente divulgação era levado a aproximadamente uma centena de lares, todos os domingos.

Era calvo, e brincávamos com ele: - João, me empresta o pente? Um frondoso sorriso estampava sua face diante disto.

 

Este irmão tinha uma predileção por um determinado assunto nos ENSINAMENTOS ROSACRUZES; o cultivo do discernimento. Lembro-me de várias ocasiões em que – juntamente com outros irmãos e irmãs - discorríamos sobre este tema, e a importância dada por Max Heindel a isto: O discernimento é a faculdade que nos permite distinguir aquilo que é essencial daquilo que não tem importância, separando a realidade da ilusão...  (Cristianismo Rosacruz – Conferência XI ).

 

Com respeito a isto, Cristo nos deu um maravilhoso ensinamento, sem paralelos: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus(Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas).

 

Nós – como Cristos em formação – constantemente estamos sendo confrontados com a necessidade de discernir;

 

* De um lado CÉSAR: os desejos e anelos de nosso Eu-Inferior.

* Por outro lado, temos DEUS: os impulsos do Eu-Superior.

 

A capacidade discernente que adquirimos nos auxiliará a edificar, não só no presente, mas para vidas futuras também. À medida que nosso discernimento se desenvolva mais efetivamente, poderemos levar a cabo ações que nos produzam crescimento anímico.

 

Esta faculdade nos impulsiona a nos adaptarmos a novas condições e ambientes; talvez em nenhum momento da história da humanidade, as mudanças ocorreram tão velozmente como agora. A evolução não prossegue sem transformações, e o discernimento determina quais mudanças são salutares para nosso desenvolvimento interno.

 

Nunca devemos nos esquecer que – ao crermos que nossas razões sejam justas e corretas – não estamos isentos de atos nocivos e danosos que possamos cometer aos nossos semelhantes. Estes atos, certamente, estarão sob nossa responsabilidade e acarretará a Lei de Causa e Efeito. Não importa o quanto bem podemos aspirar e desejar para realizar, se o resultado da falta de discernimento acarretar algo prejudicial, seremos responsáveis.

 

Robert Burns (1.759-1.796), poeta escocês, expressou que seria ótimo nos vermos, como as pessoas nos veem. Sobre isto, várias palestras – nos anos 80 – foram realizadas em diversos Centros Rosacruzes no Brasil.

 

Ainda que o discernimento não nos dê inteiramente esta capacidade, contribui enormemente para com nosso poder de observar - e escolher - nossas ações.

 

Outro fator que fortalece nosso discernimento, está no (noturno) exercício de retrospecção.

 

Por várias vezes a revista Rays from the Rose Cross (Oceanside), publicou artigos sobre este exercício, dizendo que Max Heindel o considerava como um dos  mais importantes ensinamentos promulgados pela Fraternidade Rosacruz.

 

Vale lembrar que este exercício não foi elaborado por Max Heindel; ele o recebeu dos Irmãos Maiores, conforme ele mesmo afirma. (Iniciação antiga e moderna – capítulo III – Sala leste do templo – parte A mesa dos pães da proposição).

 

Por ter uma fé inabalável nas respostas de Max Heindel às perguntas no livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Volume I, citado acima, tenho convicção que, em algum lugar e tempo, perguntarei novamente ao meu inesquecível amigo: - João, me empresta o pente?