Outro dia conversei pelo WhatsApp com um
velho amigo. Há muito não nos comunicávamos. Coisas da vida. Cada um no seu
caminho. Problemas existenciais nos mantiveram olhando apenas para nossos
umbigos. Interesses. Compromissos. Planos frustrados. Expectativas. Cada
um no seu paraíso ou no seu inferno. Habitualmente convivendo com os dois e
lutando por um saldo positivo no final. E, segue a vida…
O assunto predominante foi a pandemia e
suas restrições no cotidiano das pessoas. Porém, ele me confessou a descoberta
de aspectos positivos nesse isolamento forçado. Um deles é o tempo que lhe
sobra para observar e ouvir mais atentamente o mundo restrito que o cerca.
Coisas simples, corriqueiras. Tão banais que passavam desapercebidamente pelos
seus dias. Coisas aparentemente pequenas, como observar o comportamento leal e
as reações quase humanas do seu cão. A rotina da casa, como as tarefas de cozinhar,
lavar, higienizar, podar a roseira, pintar a janela da edícula. Como esses
afazeres podem ser gratificantes se feitos com atenção, consciência, e neles
encontrarmos um significado. Dar atenção às crianças, conversar com os idosos,
mesmo para ouvir aquelas histórias de sempre. No fundo, um exercício de
paciência, de generosidade. Talvez aprender a ouvir mais e falar menos.
Perceber a existência de “algo divino” no interior das pessoas. Sentir-se uno
com esse “algo divino”.
Em determinado momento meu amigo revelou ter aprendido a observar melhor o céu. “Há muito tempo eu não prestava atenção ao céu”. Fascinei-me com o brilho e limpidez do seu azul. Admirei o contraste com as nuvens brancas. Nunca notara antes. Observação que quase me levou a um êxtase ou arroubo. Descobri significados nunca anteriormente imaginados. Não sei se você vai me entender, pois trata-se de uma experiência interna, única, pessoal”.
Encerramos a conversa e eu fiquei
matutando sobre tudo o que acabara de ouvir. Decidi, então, a partir de hoje,
observar melhor o pôr do sol. Se possível com os olhos da alma. Se possível…
0 comments:
Postar um comentário