22/10/2017

A Decisão da Águia - Uma Analogia


A Águia é uma ave que chega a viver até 70 anos. Mas, para alcançar essa idade, ela tem de tomar uma séria decisão por volta dos 40 anos. É uma fase em que está com as unhas compridas e flexíveis e já não consegue caçar, em que seu bico alongado e pontiagudo está curvo, em que suas asas estão apontando contra o peito, envelhecidas e pesadas por causa da grossura das penas, e em que voar está se tornando uma tarefa difícil. Então, a águia tem apenas duas opções: morrer ou enfrentar um dolorido processo de renovação que durará 150 dias.

Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e recolher-se a um ninho próximo a um paredão rochoso, onde ela não necessite voar. Tendo en­contrado esse lugar, a águia começa a bater com o bico contra a rocha até conseguir arranca-lo, espera nascer um novo bico com o qual vai depois arrancar as unhas. E, quando as unhas novas começam a nascer, ela se põe a arrancar as velhas penas. Somente depois de cinco meses, sai para seu famoso vôo de vitória. E poderá, então, viver mais 30 anos.

Em nossa vida, muitas vezes temos de resguardar-nos por algum tempo e começar um processo semelhante. Para o nosso voo de vitória, devemos despre­ender-nos de lembranças, costumes e tradições que nos causaram dor. Apenas quando nos livramos do peso do passado é que podemos aproveitar o valioso re­sultado que a auto-renovação sempre traz.

Essa auto-renovação ou re-generação ou mesmo renascimento é uma verdade cósmica evidenciada pela analogia em todos os reinos e ensinada por aqueles que puderem comprovar-Ihe diretamente a realidade

O renascimento do espírito na matéria com o propósito de adquirir experiências e expandir a consciência era admitido pelas Escolas de Mistérios e por várias religiões da antiguidade. Nas lendas e mitologias de diversos povos encontramos alusões ao fato, sendo que, em muitas delas, uma ave representa o espírito sequioso de evolução.

Assim, encontramos a Fênix, uma ave mitológica que vivia cerca de 500 anos e depois se queimava, renascendo das cinzas, continua­mente. É um símbolo do espírito, que renasce para a escola da vida de tempos em tempos, trazendo as cinzas das experiências passadas como consciência cada vez mais ampla.

O místico símbolo de Escorpião é representado no seu aspecto positivo pela águia, elevada aos céus depois de haver rastejado como escorpião nos apegos materiais. Em "Parsifal" e "Lohengrin", dramas musicados por Wagner, o cisne é que representa essa ideia.

No Batismo do Jordão, uma centelha do Cristo Cósmico desceu para habitar o corpo de Jesus, na forma de uma pomba, símbolo do Espírito Santo.

Alguns pretendem contestar as verdades divulgadas pelo Cristianismo Esotérico, argumentando não ter sido o renascimento ensinado nos Evangelhos.

Ora, o renascimento não foi ensinado publicamente mas simbolicamente em o Novo Testamento. Isso já estava previsto. As Hierarquias Espirituais previam uma fase de conquista do mundo material, o que só seria possível mediante o desconhecimento de que o espírito renasce sucessivas vezes na matéria. Era necessário a aceitação de uma só vida como única realidade para que todos os esforços se concentrassem em realizações materiais.

O Cristo, entretanto, por meio de parábolas fez alusões aos grandes mistérios, só entendidos pelos discípulos mais chegados. Na passagem da visita de Nicodemos e na do cego de nascença percebe-se que o Mestre referia-se ao renascimento.

A Bíblia contémextraordinários ensinamentos ocultos os quais só poderão ser notados em seu sentido alegórico. Analisados literalmente tornam-se apenas um código moral. Nada mais que isso.

Fonte: ECOS e Revista Serviço Rosacruz, julho 1984 

14/10/2017

Uma Descrição

por Augusta Foss Heindel
Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus, 25:40)

Peço ao leitor que me siga até a região norte do Canadá. É Inverno. A natureza se encontra coberta com uma bela capa de neve. Até onde a vista possa alcançar, tudo resplandece como o brilho da prata. Estamos muito distantes dos ruídos das cidades, nas selvas, onde o pé do homem raramente pisa e onde a vida animal vaga livremente.

-Oh! as belezas da natureza ao bilhar do sol sobre a neve, que pesadamente cai sobre os galhos das árvores, formando uma espécie de dossel, sob o qual os animais procuram abrigar-se do vento gelado!

Ficamos curiosos em saber o que seriam algumas pequenas e leves pegadas na neve que nos conduzem para uma abertura no meio de vários ramos, próximos de um velho pinheiro caído há muitos anos e onde um urso se resguardou fugindo de um caçador. Sendo o pinheiro um obstáculo para a consecução do seu intento, o caçador o derrubou e com um tiro mortal tirou a vida do urso conseguindo assim o seu objetivo, ou seja, a pele do animal para a venda.

O tronco dessa árvore agora servia de local  de recreio para algumas pequenas criaturas acostumadas a correr entre os ramos em suas brincadeiras: um casal de arminhos com cinco filhotes jogueteando-se ao seu redor. Esses animaizinhos são pequenos e delgados, perto de dez polegadas, possuem pernas curtas e seus corpos são cobertos de pelos tão brancos, que fica difícil distinguí-los em meio à neve, a não ser por seus pequenos olhos que cintilam como negras lantejoulas. As unhas de seus pés e o final de suas caldas são também de cor preta. São de natureza brincalhona e estão felizes ali na selva, longe de caçadores e armadilhas.


De repente, a “mãe” emite um grito de dor. Caiu em uma trampa. Nós não vemos a armadilha, mas o pequeno animal está fortemente preso e oh! como agoniza! Sua rosada e pequena língua congela-se rapidamente aderida à casca do tronco da árvore. Tinha fome e um aroma tentador a impulsionou para aquele galho, mas ao provar o que provavelmente acreditava ser um delicioso “bocado” para a sua prole, já  não pode tirar a sua língua. Seu companheiro foi apressadamente em seu auxílio, mas também ele ficou fortemente preso e da mesma maneira.

Lutaram até a exaustão. Os filhotes atravessavam ao seu redor sem compreender o que ocorria. Enquanto os pais estavam exaustos e sofrendo, os pequenos se alimentavam no peito da mãe.

De repente se escuta o ranger de um galho e logo vemos distante uma forma obscura. Com passos furtivos um homem lentamente caminha através da nevasca em direção ao lugar onde, no dia anterior, havia colocado suas armadilhas. Sua grande e tosca figura estaba vestida com uma capa feita de grossas e escuras peles de urso; na cabeça um turbante feito com a preciosa pele de uma raposa cinza, cuja sedosa cauda ainda ali permanecia, como ornamento.

O rosto do caçador é coberto de uma cerrada e extensa barba negra; seus olhos frios e cruéis são de um cinza escuro. Nunca sentiu o amor, que pudesse suavizar o seu coração; amava somente o ouro que poderia conseguir com a venda dos animais assassinados e torturados. Com esse dinheiro poderia obter todo o licor e o whisky que desejasse e também comprar outros pequenos animais que lhe supririam o alimento necessário. Que mais poderia querer na vida? Quanto maior o número de peles vendidas, melhor poderia manter sua natureza inferior com o único luxo que conhecia.

Ao aproximar-se do tronco caído, o caçador sorriu cruelmente: Ah! duas presas na mesma armadilha! Com uma empedernida crueldade arrebatou um a um os animais, deixando as pequenas línguas coladas na casca do tronco. Com uma faca feriu a veia jugular dos pequenos e depois de deixá-los sangrando por alguns minutos meteu-os em uma sacola que carregava, já com a alguma outra caça.

Pouco tempo depois do caçador ter-se ido com seu “prêmio”, cinco pares de negros olhinhos começaram a espreitar pelas ramagens de um pinheiro próximo. Os cinco filhotes tiveram o valor de retornar ao lugar onde ultimamente tinham se amamentado. A “mamãe” já não estaba mais ali. Somente as linguas sangrentas para contar a história. A noite se aproximava e ninguém para alimentá-los. Passaram-se os dias e por fim a fome e o frio venceram. Morreram.

Agora, sigamos o caçador e suas vítimas. Ele luta através de muitas nevascas. Levanta novamente o fuzil e apontando para algo a distância obtém uma nova vítima; agora uma preciosa lebre de olhos cor de tabaco. Isto lhe dará alimento por algum tempo.  Não lhe passa na mente que os filhotes morrerão de fome. Ele, o homem, conseguiu seu alimento, então que lhe importa os demais?

Por fim chegamos a um casebre de madeira. Ao entrar encontramos todas as paredes cobertas de peles que estão “curando” para adquirirem preço para a compra do whisky e do tabaco.

Sigamos agora, as peles. São vendidas a algum traficante que as embarca com destino a grandes peleteiros. As vemos de novo, agora, nos aparadores de um grande estabelecimento em uma grande cidade, todos decorados com peles de distintos animais. Ao entrar encontramos sentada frente a um espelho uma fina e bela mulher de rosadas bochechas. Suas suaves e pequeñas mãos estão acariciando algo: Oh! que suave e como brilha essa pele branca com as caudas negras em sua extremidade, que tanto ornamentam quanto demonstram a sua legitimidade! Depois de pagar uma alta soma pela vestimenta, sai adornada com as peles de centenas de animais impregnadas das vibrações dos torturados corpos.(1)

“Oh!, como geme o Espírito de Cristo, aprisonado na Terra! Oh! irmãs, esposas, mães, não escutam vocês os gritos destes animais torturados? Vocês também são culpadas de suas mortes, enquanto usarem esse tipo de vestimenta. Não fosse por suas vaidades, a crueldade desses assassinatos terminaría. Enquanto as mulheres continuarem usando plumas e peles de animais assassinados e preparando os corpos desses pequeninos seres como alimento, tampouco as guerras e o derramamento de sangue  terminarão.

Há alguns anos, quando em visita a uma das cidades grandes, fui levada a assistir a uma conferência demasiadamente anunciada, que seria dada por uma mulher mundialmente conhecida como guía metafísica e espiritual, representante de uma grande organização que ensinava o vegetarianismo e animava seus estudantes a refrearem-se quanto ao uso da carne como alimento. O Teatro de Opéra estava lotado e quando a conferencista se apresenta tivemos um sobressalto ao observar a uma bela mulher ataviada com um abrigo quase que totalmente coberto com as peles daqueles animaizinhos!

O adorno branco e negro era de grande efeito e atraía a atenção daqueles que só veem a “beleza”, mas para aquela que escreve, a conferência estava arruinada.Nunca mais assistimos a qualquer atividade auspiciada por alguém que se considera espiritual; que ensina a Lei do Renascimento e a Lei de Consequência; que fala de compaixão e amor fraternal, e continua, no entanto, a tolerar a tortura dos animais.

Cada um de nós, a seu devido tempo, seremos guiados para o sofrimento e para a dor, através do caminho da cruz, inconsciente das dívidas de destino que acumulamos em nossa jornada. Como disse Angelus Silesius:

"Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém,
 Se não nascer dentro de ti, tua alma ficará perdida.
 Em vão olharás a Cruz do Gólgota
                       A menos que dentro de ti, ela seja novamente erguida."

CREDO OU CRISTO (Max Heindel no Conceito Rosacruz do Cosmos)
Não ama a Deus quem ao semelhante odeia;
espezinhando-lhe a alma e o coração;
aquele que algema, nubla ou tolda a mente
pelo medo do inferno, não entendeu a divina direção.
Todas as religiões são abençoadas e mandadas por Deus;
e Cristo, o Caminho, a Verdade, a Vida,
foi enviado por Ele para aliviar o pesado fardo
do triste, do pecador, dando-lhes a paz pedida.
Eis que o Espírito Universal veio
a todas as igrejas e não a uma somente;
No dia de Pentecostes, uma língua de chama brilhante
envolveu cada apóstolo, em um halo cintilante.
Desde então, como abutres famintos,
por um nome vão, muitas vezes vamos lutar,
procurando com dogmas, éditos ou credos,
uns aos outros às inextinguíveis chamas enviar.
Cristo então é dois? Foram Cephas, Paulo,
para salvar o mundo, à cruz pregados?
Por que então existem, aqui, tantas divisões?
Se pelo amor de Cristo todos somos abraçados.
Seu amor puro e doce não está limitado
a credos que segregam e muros que levantamos.
Seu amor envolve todos e abraça a espécie humana
não importa como a nós ou a Ele O chamamos.
Por que então não aceitá-Lo na Sua doce palavra?
Por que manter credos que trazem desuniões?
Uma só coisa importa e deve ser ouvida!
Que o amor fraternal encha todos corações.
Mas há ainda uma coisa que o mundo precisa saber;
há um só bálsamo para toda a humana dor,
há um só caminho que conduz ao céu,
este caminho é a solidariedade humana e o amor.

De uma lição aos estudantes de agosto de 1948
(1) Nota de Rosacruz e Devoção: Para um casaco de porte normal são necessárias peles de 125 arminhos!

01/10/2017

Da Temperatura do Forno

Todo “alquimista”, possuía seu “laboratório” e “utensílios”, além do athanor; palavra árabe (al-tannur) que significa “forno”, onde “elevadas temperaturas” eram necessárias para a transformação do “chumbo em ouro”. Gravura da Idade Média.

por Jonas Taucci

“Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí se lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta" (Cristo, em Mateus 05:23).

Os preceitos que Cristo trouxe (e traz anualmente) à Terra, não estão direcionados a determinada religião, raça, cor, sexo ou localidade geográfica de nosso planeta; possui uma marcante conotação universalista (Aquário/Urano), e no atual estágio de desenvolvimento da humanidade - segundo os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental - constitui-se na última palavra em avanço espiritual.

Imaginemos o resultado de um mundo onde a PRIORIDADE fosse a reconciliação com nossos desafetos, e somente DEPOIS fossemos aos locais de nossas práticas religiosas ou espiritualistas, como disse Cristo!

Daríamos um passo extraordinário na caminhada para o nascimento de nosso Cristo Interno...

A máxima dita por Cristo, pode amoldar-se em igreja (católica ou protestante), sinagoga, mesquita, ashram, mosteiro, templo etc. mas vamos acondiciona-la ao aspirante rosacruz; não apenas no trabalho que realiza (direta ou indiretamente) na Fraternidade, mas também nas relações com a família, amigos, locais de trabalho, estudo, recreação, vizinhos, etc.

Sabemos (apenas sabemos...) os dizeres de Cristo - o mais alto arcanjo - no evangelho de Mateus, mas insistimos em criar mecanismos que nos ilude:

*** O erro não é meu, e sim da outra pessoa.

*** Frequento uma organização altamente espiritualizada que obviamente, me faz altamente espiritualizado, diferenciado; os desafetos são secundários. Esquece-los é o correto.

*** Escrevo artigos, ocupo cargos, ministro palestras, oficio (elevados) Rituais Rosacruzes no Templo e em casa; isto é mais importante que meus semelhantes.

*** Concluí cursos (sou probacionista), sei corretamente meu Tema Natal (horóscopo), e recito os de outras pessoas da mesma forma; isto faz meus pontos de vista estarem corretos.

(Aqui uma pausa; se temos o conhecimento de aspectos e configurações astrológicas de pessoas, fica claro então que sabemos exatamente como auxilia-las, e aqui o não auxilio, incorre num grave erro por omissão).

Há que perguntar-nos quais são nossos objetivos em pertencermos à Fraternidade Rosacruz! O caminho passa – fala Cristo – por deixarmos as ofertas no altar e reconciliarmos primeiramente com nossos irmãos.
Vemos acima, o Diagrama # 15 do Conceito Rosacruz do Cosmos:

*** A serpente escura, representa nossa descidaà matéria, através dos períodos de Saturno, Solar, Lunar e parte do Terrestre (Marciana).

*** A serpente clara, indica a subida a ser percorrida pela humanidade em geral; parte do período Terrestre (Mercurial), e os períodos de Júpiter, Vênus e Vulcano, em direção à Deus.

*** O caminho reto e estreito, no centro do símbolo, representa o caminho da iniciação.

Este caminho, requer uma reconciliação com nossos irmãos.

Uma não reconciliação implica – inexoravelmente - no abandono ao nosso Cristo Interno, e não avançaremos de forma alguma no caminho da espiritualidade, por mais que (unicamente) obtenhamos (inutilmente) informações pós informações esotéricas.

O relacionamento (ou não) com nossos semelhantes, constitui-se no ponto determinante para nossa chegada (ou não) ao altar”, e a importância deste aspecto pode ser constatada na Oração Rosacruz; que sabemos mecanicamente (apenas sabemos... novamente).

“...para que sejamos os amigos que desejamos ser.…”

Francisco Phelipp Preuss (1) , foi um dos primeiros probacionistas no Brasil; fundou centros e grupos de estudos, escreveu livros, viajou por várias partes do país ministrando palestras (universidades, bibliotecas) e sempre que o assunto era alquimia, resumia:

*** Transformar o chumbo (Eu Inferior) em ouro (Eu Superior).

*** Temos o laboratório (corpo denso, vital, desejos e mente).

*** Em todos livros sobre alquimia, há referência ao forno, onde os elementos sem valor (Eu Inferior), são elevados a altas temperaturas para que possam transubstanciar-se em ouro (Eu Superior).

*** O forno representa o relacionamento com nossos semelhantes onde a elevação da temperatura do perdão, amor e o reconhecimento de que todos nós - Espíritos Virginais - somos verdadeiramente irmãos, parte de uma família cósmica, irá dissolver todo e qualquer resquício de inimizade e ressentimento. Esta é a verdadeira alquimia.

Cabe não fugirmos à (intima) pergunta:

- Qual a temperatura de meu forno”?

(1) Biografia de Francisco Phelipp Preuss (veja aqui)