O Sofrimento de Margarida
Nota: a pergunta refere-se ao último quadro ou ato da obra Fausto (Parte ou Vol. I) de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).
PERGUNTA Nº 20
Por que o sofrimento de Margarida foi tão extremo e desproporcional em relação ao de Fausto, indo até à detenção e à pena de morte, enquanto a vida dele, sua liberdade e busca da felicidade não foram perturbadas?
Resposta: Esta questão refere-se a um dos mitos que nos foram revelados através dos tempos e, contrariamente à crença popular, um mito não é uma história fictícia, mas é uma verdade velada, transmitindo, através de símbolos, grandes princípios espirituais. Esses mitos foram dados à humanidade incipiente pela mesma razão que proporcionamos às nossas crianças ensinamentos éticos através de. histórias infantis ilustradas, que vão sendo gravados em suas mentes de uma forma que o ensinamento só intelectual seria incapaz de conseguir.
Goethe, um iniciado, tratou o mito de Fausto de uma maneira extraordinariamente iluminadora, e a chave do problema encontra-se no prólogo, que se desenrola no Céu da mesmíssima forma que acontece no início do Livro de Jó. Os Filhos de Deus comparecem diante do Trono e o Demônio está entre eles, pois também é um dos Filhos de Deus. É autorizado a tentar seduzir Fausto para que as forças espirituais possam vir à tona e a virtude desenvolver-se. É um dos nossos grandes erros considerar a inocência e a virtude como sinônimos. Cada um de nós nasce inocente, livre de qualquer mal, que foi todo eliminado, mas há certas tendências que podem transformar-se em vício e, por esta razão, devemos ser postos à prova a cada vida para ver se cederemos à tentação e optaremos pelo vício, ou se resistiremos e desenvolveremos a virtude. Fausto é tentado, cai, mas, posteriormente, arrepende-se sinceramente e transmuta as forças do mal em bem, de tal maneira que ao final é salvo. O arrependimento e a auto-reforma antes da morte forjaram a sua salvação. A paixão luxuriosa que sentia por Margarida deu lugar ao amor puro por Helena. Margarida também cede à tentação, arrepende-se, é salva, e seus pecados são perdoados. No primeiro caso, temos a salvação por atos. Com sua energia, que domina as forças do mal, ele constrói uma nova terra, uma terra onde um povo livre pode viver sob melhores condições. Ele procura elevar a humanidade a um plano superior e, através desse ato e pela sua dedicação desinteressada em relação aos outros, é remido das forças do mal. No caso de Margarida, a salvação resulta da prece e do arrependimento. Temos nesse drama, conforme representado por Goethe, um perfeito símbolo do ensinamento ocidental, onde se processa tanto o perdão dos pecados como a expiação de um ato errado por um ato correto correspondente. A morte é algo que chega para todos, e o sofrimento que resulta do ato errado é diferente em cada caso, o qual não foi minimizado para Fausto, cuja vida foi prolongada por muitos anos, ao contrário de Margarida que teve uma vida bem mais curta. A única diferença é que Fausto superou conscientemente a tentação e, numa vida futura, será imune a ela, enquanto que no caso de Margarida isto é problemático. Numa vida terrena posterior, ela terá ainda que enfrentar a tentação para provar se desenvolveu ou não a força de caráter necessária para resistir ao mal e aderir ao certo.
Do livro: Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, Max Heindel
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