28/06/2020

Pensamento Binário

   por Gilberto Silos

Quando à humanidade acenderam-se as primeiras luzes deste século uma esperança nos animava. Era a de que se descortinaria um mundo de mentes abertas e receptivas a novas ideias. O século passado, a despeito do grande avanço da ciência e da tecnologia, foi um período dividido por intolerâncias e guerras. Os “ismos” provocaram muito sofrimento.

Para nossa frustração o terceiro milênio começou sob o signo da intolerância e do radicalismo. Isso ocorre principalmente nos campos religioso e ideológico. Qualquer nova ideia, antes de ser imparcialmente examinada, já recebe um rótulo. Não é recebida com o espírito desarmado. Há uma predisposição maniqueísta de, antecipadamente, aceitá-la ou rechaçá-la. Nesse aspecto ainda temos muito que evoluir.

Max Heindel, fundador de The Rosicrucian Fellowship, já no início do século passado, abordava esse assunto em seu livro “O Conceito Rosacruz do Cosmo”. Heindel escreveu que “quando uma nova ideia ou filosofia se apresenta ao mundo é encarada de forma diferente pelas mais diversas pessoas. Algumas se apoderam avidamente de qualquer novo esforço filosófico, procurando ver em que proporção lhe serve de apoio às suas próprias ideias. Para essas, a filosofia em si mesma é de pouca valia. Terá valor se reforçar as suas ideias. Outras adotam uma atitude crítica tão logo descobrem que a obra contém alguma coisa a cujo respeito nada leram nem ouviram falar anteriormente, ou sobre a qual ainda não lhes ocorrera pensar. E provavelmente repelirão como extremamente injustificável a acusação de que sua atitude mental é o cúmulo da auto-satisfação e da intolerância. Ambas mantêm-se na sua própria luz. Suas ideias pré-estabelecidas as torna invulneráveis aos raios da verdade. A tal respeito uma criança é precisamente o oposto dos adultos, pois não está imbuída do sentimento dominador de superioridade, nem inclinada a tomar aparência de sábio ou de ocultar, sob um sorriso ou um gracejo, sua ignorância sobre qualquer assunto. É ignorante com franqueza. Não tem opiniões preconcebidas nem julga antecipadamente; portanto, é eminentemente ensinável. Encara todas as coisas com essa formosa atitude de confiança a que denominamos “fé infantil”, na qual não existe dúvida, conservando os ensinamentos que recebe, até comprovar-lhes a certeza ou o erro.”

Neste novo século o prejulgamento e o pensamento dogmático ainda conservam sua vitalidade. James W. Jones, em sua obra “A Descoberta do Verdadeiro EU”, revela que “quando peço aos meus alunos na universidade a me declararem o que pensam da palavra religião, suas respostas quase que invariavelmente caem em duas categorias: ‘coisas em que devo acreditar ou regras que devo obedecer’. ”

Onde, então, estão a liberdade de pensamento e a prerrogativa de múltiplas escolhas? E o sagrado direito de mudar de opinião quando a razão ou a consciência entendem que é necessário?

O pensamento binário é o obstáculo a ser vencido se desejamos um mundo mais livre.

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