por Gilberto Silos
Quando à humanidade acenderam-se as primeiras
luzes deste século uma esperança nos animava. Era a de que se descortinaria um
mundo de mentes abertas e receptivas a novas ideias. O século passado, a
despeito do grande avanço da ciência e da tecnologia, foi um período dividido
por intolerâncias e guerras. Os “ismos” provocaram muito sofrimento.
Para nossa frustração o terceiro milênio
começou sob o signo da intolerância e do radicalismo. Isso ocorre
principalmente nos campos religioso e ideológico. Qualquer nova ideia, antes de
ser imparcialmente examinada, já recebe um rótulo. Não é recebida com o
espírito desarmado. Há uma predisposição maniqueísta de, antecipadamente,
aceitá-la ou rechaçá-la. Nesse aspecto ainda temos muito que evoluir.
Max Heindel, fundador de The Rosicrucian
Fellowship, já no início do século passado, abordava esse assunto em seu livro
“O Conceito Rosacruz do Cosmo”. Heindel escreveu que “quando uma nova ideia ou
filosofia se apresenta ao mundo é encarada de forma diferente pelas mais
diversas pessoas. Algumas se apoderam avidamente de qualquer novo esforço
filosófico, procurando ver em que proporção lhe serve de apoio às suas próprias
ideias. Para essas, a filosofia em si mesma é de pouca valia. Terá valor se
reforçar as suas ideias. Outras adotam uma atitude crítica tão logo descobrem
que a obra contém alguma coisa a cujo respeito nada leram nem ouviram falar
anteriormente, ou sobre a qual ainda não lhes ocorrera pensar. E provavelmente
repelirão como extremamente injustificável a acusação de que sua atitude mental
é o cúmulo da auto-satisfação e da intolerância. Ambas mantêm-se na sua própria
luz. Suas ideias pré-estabelecidas as torna invulneráveis aos raios da verdade.
A tal respeito uma criança é precisamente o oposto dos adultos, pois não está
imbuída do sentimento dominador de superioridade, nem inclinada a tomar
aparência de sábio ou de ocultar, sob um sorriso ou um gracejo, sua ignorância
sobre qualquer assunto. É ignorante com franqueza. Não tem opiniões
preconcebidas nem julga antecipadamente; portanto, é eminentemente ensinável.
Encara todas as coisas com essa formosa atitude de confiança a que denominamos
“fé infantil”, na qual não existe dúvida, conservando os ensinamentos que
recebe, até comprovar-lhes a certeza ou o erro.”
Neste novo século o prejulgamento e o
pensamento dogmático ainda conservam sua vitalidade. James W. Jones, em sua
obra “A Descoberta do Verdadeiro EU”, revela que “quando peço aos meus alunos
na universidade a me declararem o que pensam da palavra religião, suas
respostas quase que invariavelmente caem em duas categorias: ‘coisas em que
devo acreditar ou regras que devo obedecer’. ”
Onde, então, estão a liberdade de pensamento e
a prerrogativa de múltiplas escolhas? E o sagrado direito de mudar de opinião
quando a razão ou a consciência entendem que é necessário?
O pensamento binário é o obstáculo a ser
vencido se desejamos um mundo mais livre.
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