02/12/2022

O Reino Dentro de Nós

por Gilberto Silos
"Não sabeis que sois o santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, porque o santuário de Deus que sois vós é sagrado". (Coríntios: vers.16 e 17)

O apóstolo Paulo nessa admirável carta fala da sacralidade do espírito. O Serviço do Templo da Fraternidade Rosacruz exorta-nos a servir a Divina Essência que brilha no Intimo das pessoas, em vez de censurar-lhes as falhas. Noutro trecho dos Evangelhos o Cristo revela que "O Reino de Deus está dentro de vós". São variações do mesmo tema, modernamente expressando-se em tratados sobre autoconhecimento, auto cura, processos de interiorização, etc.. A literatura sobre o assunto é cada vez mais vasta. Porém, em meio a tanta teoria e divagação, nada melhor que a prática para concluir-se como a via do autoconhecimento é pontilhada de obstáculos, como exige tenacidade e coragem moral para ser percorrida.

Só atingiremos a perfeição espiritual quando do desabrochamento do nosso Deus interno. E isto acontecerá quando realizarmos os sacrifícios e esforços necessários em nível individual. A salvação, a perfeição, a religação com nossa origem, a nossa transformação em inteligências criadoras, ou qualquer outro nome que se queira dar ao resultado final da nossa busca, acontecerá em consequência de transformações internas e não de acontecimentos exteriores. 

A princípio o estudante sentirá dificuldade em admitir que ele cumpre um papel ativo nesse processo. Durante grande parte de sua vida foi condicionado a procurar um Deus externo e a venerar uma Inteligência Cósmica abstrata. Pode ser que ele tenha aprendido que a salvação só é factível através da crença num Cristo que outrora caminhou pela orla dos mares da Galileia e que hoje se encontra literalmente à destra do Pai. Era precisamente a esperança de que o Cristo externo salvaria a todos que nele cressem que lhe retirava um pesado fardo de cima dos ombros. Ademais, tudo que lhe cabia fazer era crer e esforçar-se por ser bom, sendo que a definição de bondade era algo mais ou menos pessoal, subjetivo.

Agora, depara-se com uma nova etapa em sua carreira evolutiva e com a responsabilidade de carregar o fardo sozinho. Cabe-lhe o dever intransferível de desenvolver sua potencialidade espiritual. Sabe que a oração científica, acompanhada de esforços sinceros e obras altruístas atrairá a ajuda de Seres Iluminados. Todavia, não se esquece que deve cultivar a autossuficiência e assumir total responsabilidade pelos seus atos. Pode-lhe ser aterrador enfrentar a ideia de que as normas impostas anteriormente pelo cristianismo ortodoxo assumem agora enormes proporções. Tornam-se um conjunto de critérios transcendentes, multifacetados e aparentemente inatingíveis.

Vemos, pois, que tudo isso implica numa mudança da relação do homem com Deus. E isso não é um processo fácil, tranqüllo. Ele gera conflitos, dúvidas, hesitações e, em alguns casos, até desistências. A aceitação da idéia de que o Reino de Deus está dentro de nós significa uma revolução interna, uma ruptura às vezes dolorosa com conceitos extremamente arraigados. Quem admite, facilmente, Deus como poder individualizado? Ou que Seu Reino manifesta-se em nossa consciência e por intermédio dela Seu poder flui e atua? Admiti-lo não representa uma conquista do intelecto, mas o desabrochar de um estado de consciência, a manifestação de Deus macrocósmico na experiência individual.

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