Cristo na presença de Pilatos, Mihály Munkácsy, 1881
por Gilberto Silos
No entendimento de Marcel Proust, “a verdadeira viagem de descobrimento consiste não em procurar novas paisagens, mas em possuir novos olhos”.Para o autor de “Em Busca do Tempo Perdido”, é importante o ser humano encontrar e desvendar novos aspectos da realidade que ele já conhece, antes de ficar observando superficialmente as novidades.
Ao homem moderno parece não interessar a procura do transcendente nas coisas, pessoas e fatos do cotidiano. Sua descrença ou desdém por tudo que a visão ilusória de seu ego entende como simples, medíocre ou prosaico, lhe embaça os olhos para a profundidade das coisas. Sedutor é o brilho fugaz da grandiloquência. Enganosa é a importância relativa que lhe é dado perceber pelos seus sentidos físicos, com aval da mente. Muitas vezes tudo não passa de grandiosidade superficial, sem raízes fincadas em essências eternas.
Huberto Rohden nos chama a atenção sobre a necessidade de observar e valorizar essas miudezas do dia a dia no seu belo poema “Fazer Grandemente as Pequenas Coisas”. Dessa valorização podem nascer a paz e o sentido da vida que muitas pessoas procuram.
Isso tudo vale tanto para o homem comum, como para aquele que busca na espiritualidade um sentido para sua vida. “Possuir novos olhos” pode ser o caminho para evitar o engano de imaginar a “verdade” contida apenas no grandioso. “Que é verdade?”, perguntou Pilatos a Jesus e não obteve resposta.
Antes de escolher um novo caminho na espiritualidade, é bom ver com os olhos renovados a estrada já percorrida. Talvez até nos surpreendamos com o que deixamos de perceber: dentro do antigo, um novo caminho, uma verdade até então desconhecida.
A cada instante a vida se renova e nós nos renovamos sem o perceber. Somos o mesmo, e dentro do mesmo, somos outro.
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