por Eduardo Aroso
A oposição ciência
religião, vice-versa, é antiga. Com o aumento do ambiente materialista actual
tem-se agudizado em posições académicas irredutíveis, mas também contendo uma
falange significativa que chega a uma situação dir-se-ia crítica ou de
fronteira, isto é, o cientista não sai, como lhe compete, da área científica,
mas não enjeita outras componentes na busca de uma visão mais abrangente da
vida (Leia-se Ciência e Religião, de Russel Stannard, edições 70). O confronto
ciência/religião aconteceu no passado, por exemplo, com Galileu e Newton de um
lado, e do outro a igreja dominante, o mesmo é dizer o pensamento vigente na
época.
É óbvio que o tema daria
matéria não só para um livro, mas para vários tratados. Este breve artigo
pretende tão-só chamar a atenção para dois ou três pontos essenciais que, em
combinação com a filosofia rosacruz, possa contribuir para esbater a barreira
que se construiu pelo materialismo separando ciência-religião e até a arte. É
sobejamente sabido que a Idade Média viveu intensamente a religião em
detrimento da ciência «sufocada» (como diz Max Heindel) e dir-se-ia não
desenvolvida como está hoje. Deus estava na religião. O Renascimento trouxe uma
notável expansão em todas as artes, maior que a própria ciência moderna que
começava então a despontar. Hoje, para muitos cientistas só a ciência pode
explicar o mundo e, mais do que este, a própria Vida. Mas não só, pois muita
gente segue o preceito de que o que a ciência não explica não é verdade e,
sobretudo não confiável! Ou seja, se Deus não está na Ciência não existe, do
mesmo modo que os místicos medievais não podiam admiti-Lo nos átomos ou nos
feixes quânticos da nossa época, ou como em pleno Romantismo Beethoven percebia
Deus através da música.
Se - como diz o povo e
bem - «Deus está em toda a parte», é bem de ver que na Manifestação Ele não tem
limites para essa Imanência. É esta a razão d’Ele estar tanto na Ciência, na
Arte e na Religião. O fanatismo que eclodia no passado em certos momentos de
vivência religiosa talvez não seja do mesmo teor de uma espécie fanatismo com
que a ciência académica se posiciona como detentora da verdade, mas deixa-nos a
pensar que, pelo menos: a) Em cada época tem havido mais propensão para
aprofundar uma destas três áreas (religião, ciência, arte); b) Em qualquer uma
delas se observa que o ser humano está em evolução, pois há ainda uma visão
limitada do Todo; c) tudo indica que se caminhe (Era de Aquário) para uma
plenificação do ser no sentido de as fazer convergir, revelando assim a
divindade que existe na criatura terrestre e bem assim nesses três ramos do
conhecimento e experiência humana.
«Em toda a sua
relatividade, todo o progresso decorre duma evolução do conhecimento humano,
seja qual for o seu estatuto, estendendo-se pelo místico, o 2 religioso, o científico,
no quadro das mais diversas culturas». (António Amorim da Costa, professor de
Química, jubilado, da Universidade de Coimbra, «Ciência e Mito», Imprensa da
Universidade de Coimbra, 2010). Adianta ainda o autor, como quem se situa bem
na fase actual, a da separação (especialização) do saber: «Saber conviver com o
intrincado da própria teia poderá ser a mais sábia das atitudes».
É interessante saber que
Galileu (cientista que revolucionou a astronomia, condenado a abjurar o seu
pensamento perante a Igreja Romana), na sua obra «Sidereus Nuncius» (publicado
em Veneza em 1610) o título é o mesmo que o livro de Augusta Foss e Max
Heindel, «The Message of the Stars», esta uma colectânea de escritos e
horóscopos que quando foi editada constituiu um repositório de conhecimento que
veio preencher um vazio, e que ainda hoje é de grande utilidade, muito em
particular quanto às doenças. A filosofia rosacruz explica as razões da
separação da ciência e da religião, ao longo dos tempos, da predominância de
uma sobre a outra, para finalmente serem, como destino, os dois “braços” da
Verdade de um modo mais explícito e equilibrado.
É consolador saber que
Galileu, profundamente empenhado na ciência da astronomia e não só, tenha tido
uma atitude conciliadora (sabe Deus com que cuidado naquela época!) da ciência
e da religião: «Todas essas coisas por mim observadas e descobertas, não há
muitos dias, mediante um perspicilium inventado e construído por mim,
previamente iluminado pela graça divina» («Explicando A Astronomia e o Poder
Religioso», de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, edições Ediouro). Na
realidade, Galileu foi uma afronta para o pensamento aristotélico do
funcionamento do universo que a Igreja defendia. Segundo os estudiosos, o
cientista pretendia que a sua teoria não a afrontasse, mas que fosse um passo
em frente no avanço da humanidade, tendo ficado decepcionado. Galileu provocou
uma cisão no pensamento da época só comparável com a divisão da Igreja
Ocidental (romana) e Oriental (ortodoxa) ou da cisão que Lutero trouxe ao
catolicismo, conhecido como protestantismo. Dado que um ambiente científico
gera um correspondente clima filosófico, a comprovação de que é a Terra (e
demais planetas) é que gira à volta do Sol, e não este à volta do nosso
planeta, ainda hoje nos faz pensar na clássica sentença «o homem é a medida de
todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são,
enquanto não são." (Protágoras, séc. V A.C.).
Se por um lado expressa a
ideia de relatividade, o que é certo é que durante a Idade Media e no
Renascimento, nomeadamente através da Escolástica, esta expressão mais
conhecida na abreviatura «o homem é a medida de todas as coisas» colocou de
algum modo o ser humano numa posição egocêntrica, sobrepondo-o assim ao reino
animal, vegetal e mineral, afirmação talvez derivada desse pensamento
aristotélico antigo que colocava tudo a girar à volta da Terra. De um ponto de
vista absoluto no ser humano 3 enquanto centelha divina, tudo gira à sua volta,
posição irredutível, pois o Ego é indestrutível.
Mas isso pode obscurecer
outra largueza de pensamento, como, por exemplo, a de hoje quanto à negação
peremptória de muitos de que haja seres extraterrestres. A filosofia rosacruz
explicita bem no capítulo da Cosmogénese que além do ser humano há outros seres
mais elevados de outras ondas de vida. O orgulho intelectual que parece ter
afluído à frase «o Homem é a medida de todas as coisas», decerto sem que
Protágoras imaginasse, não foi tão sábio e pronto para divulgar o dito de S.
Paulo em que o seguidor de Cristo diz do ser humano ser um pouco mais que
animal e inferior aos anjos, deslocando assim a consciência para um ponto mais
alto, o reino angélico. (Continuará)
Eduardo Aroso é Probacionista da The Rosicrucian Fellowship através de Portugal.
Mais artigos do autor neste blog: (aqui)
Eduardo Aroso é Probacionista da The Rosicrucian Fellowship através de Portugal.
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