05/10/2013

Devoção (I) - Amor e Fé

traduzido da Rays from the Rose Cross, julho 1976 (original po Thomas O'Hare)

Os ensinamentos que Max Heindel divulgou para o mundo Ocidental estão, especificamente, destinados àqueles com mentes inquiridoras. É-nos ensinado, ainda, que o intelecto precisa primeiro, estar tranquilo para que o coração possa falar. Assim, é importante que nós, que estudamos os Ensinamentos com seriedade, tenhamos que fazer grandes esforços para equilibrar nossas tendências mais intelectuais.

O desenvolvimento da devoção pode ter esta função de equilíbrio pois se refere, especificamente, ao nosso coração, ao qual estão reservados elevados ensinamentos. Para muitos de nós, os elementos intelectuais nos chegam com maior ou menor facilidade; é preciso cuidado porque, por vezes, estão aí as nossas maiores dificuldades. Como Max Heindel coloca em "Coletâneas de um Místico" (Cap.II-Iniciação): "O maior perigo do aspirante neste ponto é cair vítima do laço que tende ao egoísmo e sua única garantia é cultivar as faculdades da fé, da devoção e uma simpatia universal. É difícil, mas pode ser alcançado e quando isso se consegue, o homem ou mulher se transforma numa força maravilhosa, para o bem do mundo". E é por isso que, como estudantes do Ocultismo, nosso crescimento moral deve ultrapassar nosso crescimento esotérico, pois, caso contrário, faremos um mau uso das forças espirituais que adquirimos. Como aspirantes ao Caminho da Iniciação, devemos cortejar a devoção e nos esforçarmos para desenvolvê-la, pois ela exerce uma grande importância no nosso crescimento. Quando a devoção surge na nossa vida e permanece viva, ela constitui uma força muito grande. Serve, também, como defesa contra as muitas tentações que nos aparecem pelo caminho.

Vamos observar primeiro, dois casos do mundo material e, por analogia, ver como a devoção age.

Uma pessoa pode ser devota à outra; isto normalmente implica amor, carinho e fé. Do mesmo modo, uma pessoa pode ser devota a um ideal; todas as suas energias estão dirigidas para alcançar e servir este ideal. Isto implica sacrifício e consagração. Na devoção, nós encontramos quatro elementos: amor - fé - auto-sacrifício e consagração. São essas as quatro lições de devoção:

1 - LIÇÃO DE AMOR:
O amor é uma lição bastante enfatizada pela Filosofia Rosacruz, pois é a própria Filosofia que procura aproximar o hiato que existe entre o coração e a mente. Devemos desenvolver um coração meigo, baseado no amor e carinho para com nossos irmãos. Se olharmos para o título de "O Conceito Rosacruz do Cosmos", encontraremos escrito em pequenas letras: "Cristianismo Místico".

Nestas duas palavras estão contidas todos os ensinamentos que Max Heindel tinha em mente quando instituiu a Fraternidade Rosacruz e escreveu seus livros.

Essas duas palavras nos falam somente de amor. O Místico escolhe andar pelo caminho da tristeza e do sofrimento, por causa do amor. o ideal é sempre o mesmo: seguir Cristo, e é pelo amor Dele que o Místico seguirá para onde quer que Ele o leve. É este tipo de amor que nunca nos poderá levar à censura ou ao conflito com os propósitos de Deus. Todos nós sabemos que a palavra "Cristão" nos fala de uma forma direta e máxima de Cristo, que implantou a ideia básica do amor neste mundo.

Os dois grandes mandamentos que Ele nos deu falam deste amor: "Amarás o Senhor, teu Deus, com todo teu coração, com toda tua alma e com todo teu espírito (amar a Deus sobre todas as coisas). Este é o primeiro e o maior mandamento. E o segundo é semelhante: "Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mat. 22:37-39). Isto nos coloca diante de um grande ideal ao qual devemos aspirar, especialmente se andamos pelo Caminho Oculto.

A verdadeira devoção requer amor, como sua primeira lição. Nosso amor precisa ser o menos egoísta possível.

No 13° Capítulo da l Epístola aos Coríntios, Paulo fala do amor. Esta é a insuperável descrição de amor que está contida no Ritual do Serviço do Templo da Fraternidade Rosacruz. Seria muito proveitoso para todos nós se meditássemos e aceitássemos isso. Naturalmente, não podemos esperar dar um salto tão grande de nossa presente consciência de amor para a consciência ideal que for colocada diante de nós. Devemos dar-nos tempo para crescer, conscientes do ideal, mas também cientes de que somos humanos. Max Heindel expressou isto, habilmente, em um pequeno poema:

Deus ama sem cessar,
Mas nós mortais, sob certas leis,
mudamos constantemente
pelos sentimentos de dor ou de prazer.

Devemos praticar o amor no mais profundo do pensamento, cuidar deste sentimento e permitir que ele se liberte.

Um bom exercício para isto é primeiro centralizar nossos pensamentos em alguém que nos é querido e deixar fluir este amor que sentimos por este alguém. O próximo passo é desviar o fluxo deste amor para outra pessoa ou grupo de pessoas, que podem não nos ser tão queridos. Deste modo podemos lembrar e abençoar todos aqueles com quem contatamos.

2-FÉ:
Seu cultivo e seu desenvolvimento são sementes de devoção que podemos plantar. Max Heindel nos aconselha como aspirantes ao Caminho, a colocar a nossa mente numa postura infantil que será muito útil para o desenvolvimento da fé. Precisamos, também, conservar uma visão otimista. Do nosso limitado ponto de vista, pode parecer-nos que o mundo está andando numa "montanha russa", completamente fora de controle. Porém, sabemos que grandes Inteligências estão por detrás desse suposto caos do nosso mundo, controlando e dirigindo sua evolução. Da mesma maneira, com nossas próprias vidas, quanto mais nos colocarmos nas mãos de Cristo, mais começaremos a "viver a vida", a sentir a fé e mais perto estaremos Dele. Comecemos deixando que nossas vidas, nossos pensamentos, nossos sentimentos, nosso desejo sejam guiados por Ele. Esta é a idade da Fé: crer e confiar. O homem precisa aprender isto, agasalhar este senti­mento e fazê-lo penetrar em sua alma.

Max Heindel fala-nos da fé. "se trabalhamos com a lei para os. outros, a lei nos protegerá, pois estamos trabalhando com ela. A partir do momento que nos colocamos nas mãos de Deus, que pensamos como fazer seu trabalho e de que forma executar Sua vontade na Terra, então nos tornamos Seus co-colaboradores. Depositamos Nele a incumbência de nos proteger e podemos ficar tranquilos de que tudo que for necessário para nosso progresso material e espiritual virá" (Rays form the Rose Cross - agosto 1915, p. 35).

É através do desenvolvimento da fé que começamos a pôr de lado as preocupações e temores que nos assolam e que são tão prejudiciais para quem aspira o Caminho.

Viver uma vida de fé é um processo de crescimento, pois a grande maioria das pessoas aprendeu, e infelizmente muito bem, como ter preocupações e temores. Não é uma tarefa fácil livrarmo-nos dessas algemas; mas vale tentar e lutar por isso e é uma grande conquista quando nós, finalmente, o conseguimos. É natural, no entanto, que este processo seja gradativo e não devemos esperar dar um passo gigantesco com um resultado imediato. Aproximemo-nos da nossa meta, aos poucos, com persistência, através de esforços combinados, firmes e sinceros.
publicado na revista Serviço Rosacruz, agosto de 1984

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