05/03/2023

A Difícil Tarefa de Perdoar

Perdoar
: cessar de sentir ressentimento contra alguém, por causa de um erro cometido; renunciar à pretensão de desforrar-se ou vingar-se de outra pessoa; absolver. Todas essas definições do dicionário com relação à palavra "perdoar", perdem de longe o seu significado mais profundo. "Perdoar", para um aspirante espiritual deveria ser "amar". Perdoar, no sentido espiritual não é só perdoar ao que nos ofendeu, absolver-lhe de nossa dívida e deixar de perseguir-lhe, mas também, enviar-lhe do mais íntimo do nosso ser, pensamentos de com- paixão e de bênçãos.

Sem dúvida, há certa espécie de "perdão" praticado no mundo que é de baixo calibre. Há algumas pessoas que denigrem ao que lhes ofendeu, lhe repisam a falta e só quando satisfizeram plenamente sua justa indignação e demonstraram ao mundo o equívoco do seu rival, montam um grande espetáculo, perdoando-lhe as ofensas.

Existe também o tipo de perdão que poderia ser denominado "perdão superficial", ou seja, a classe que oferece perdão exterior, mais retém o ressentimento interno. Proclamar perdão, continuando reservado com relação à pessoa implicada, não satisfaz à classe de perdão que se espera de nós. Se fomos prejudicados, devemos querer perdoar incondicionalmente.

A capacidade de perdoar sem reserva, de todo coração, é a marca de um espírito forte. É uma das mais altas realizações humanas sobre a terra o abster-se da vingança e perdoar uma ofensa. O Ego que pode fazer isso, demonstra um evidente grau de domínio sobre a natureza inferior e indica que desenvolveu a capacidade de transmutar nefastos rasgos tais como o orgulho, a ira, a auto justificação e o ódio.

O perdão, algumas vezes, implica o reconhecimento e admissão de nossa própria falta. Poucos agravos são totalmente unilaterais e, se não fomos culpados de violência ou de mau deliberado, podemos ter sido culpados de um mal-entendido, de cometimento ou omissão, sem querer, que finalmente provocou a crise. Dizer "eu te perdoo" nem sempre é suficiente; amiúde também é necessário dizer - e querer dizer "Sinto muito".

A doutrina do perdão dos pecados é um fato real da Natureza. Se um malfeitor se arrepende, se reforma e se emenda tão completamente quanto seja possível por qualquer má ação que tenha come- tido não importa qual seja sua natureza o pecado do qual se arrependeu é perdoado e apagado do registro de sua vida no corpo vital. Portanto, já não está em sua contraparte e não terá de enfrentar- se com ele no Purgatório.

O arrependimento, a emenda e a reforma, são todos elementos do estado de graça proporcionado por Cristo. A restituição, particular- mente, começa com a petição de perdão tanto para Deus como a outras pessoas. Se o arrependimento foi profundo e sincero, e se em realidade aceitamos toda a culpa por nossa ação, é fácil pedir perdão. A simples frase "sinto muito", dita com humildade e com amor em nossos corações, pode fazer mais para purificar-nos, para limpar as baixas vibrações que adquirimos e para restaurar a amizade e a harmonia, que dezenas de frases melosas de falsa-contrição, ditas loquaz e insensivelmente.

Devemos aprender a perdoar do fundo de nossos corações, para podermos ser perdoados. Na parábola dos dois servos, recordamos que o primeiro servo, perdoado por seu amo, recusou perdoar o segundo, que estava em dívida com ele. E o resultado foi que: "E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão". (Mateus 18:34-35).

De nossa capacidade de perdoar, sempre, depende o nosso bem-estar. Existem numerosos casos documentados, de pacientes, que de repente, perdoaram arrependidos de guardarem ressentimentos por muito tempo, que imediatamente alcançaram cura quase que "milagrosa", de padecimentos também antigos. Um osteopata conta de uma paciente, cujas mãos por anos estavam duras e retorcidas, tanto que não podia abrir seus dedos. A mulher proclamava firmemente que não abrigava animosidade e não podia encontrar razão mental ou emocional para a sua enfermidade. Entretanto, ante o aperto implacável do psicólogo, a mulher chorosamente se rendeu e admitiu que tinha uma rixa com sua irmã.

Com súbito e sentido arrependi- mento, respirando sofregamente exclamou: "Eu a perdoo! Eu a perdoo!". A medida que exclamava, seus dedos, por longo tempo imóveis e tortos endireitaram-se e ela viu que podia movê-los novamente. Enquanto guardemos rancores, tenhamos ou não razão, quanto a uma ofensa que sentimos, não podemos obter perfeita saúde. A atitude mental inflexível que se adere ao ressentimento, convida em verdade assegura à cristalização que produz a enfermidade.

Se julgamos impossível perdoar a alguém, obviamente não o amamos como devemos. Paradoxalmente, entretanto, também é certo que, como foi dito muitas vezes e de diversas formas, é mais fácil perdoar a um inimigo que a um amigo. Esperamos trato ofensivo daqueles que consideramos inimigos e não nos surpreendemos se tal acontece. Quando, porém, um amigo, alguém a quem amamos e confiamos destrói nossa confiança nele ofendendo-nos, é fácil ver porque nos lastimamos e nos sentimos desiludidos. E mais difícil perdoar a aquele de quem muito esperávamos, que a um inimigo, de quem nada esperávamos. Então, descobrimos que nosso amor por nosso amigo não era tão forte como pensávamos; nossos sentimentos feridos ganham prioridade. Nosso amor, então, está tisnado de egoísmos; ao fazermo-nos inegoístas, perdoamos livremente.

Emerson escreveu claramente à pessoa cuja natureza de amor se desenvolveu até o ponto em que acha fácil perdoar: "Seu coração era tão grande como o mundo, mas não havia nele, lugar para reter a lembrança de nenhuma ofensa."

A humildade espiritual e a capacidade de perdoar plenamente caminham de mãos dadas. A humildade espiritual, enfocando-se sempre na divindade dos demais, não tem nem inclinação, e nem tempo para pensar em desdéns, desserviços e ofensas. A humildade espiritual, irradia só amor aos demais; não compreende uma atitude que implique ofensa.

Sem dúvida, a mais nobre afirmação de perdão jamais feita foi emitida da Cruz. Atormentado pela dor, e olhando uma multidão hostil que lhe havia açoitado e vilipendia- do, Cristo-Jesus implorou: "PAI, PERDOA-OS, POIS NÃO SABEM O QUE FAZEM". Nos perguntamos quão amiúde, durante o transcorrer dos últimos pouco mais de 2000 anos, o Cristo terá olhado tristemente a uma humanidade que professa dos dentes para fora Seus princípios, mas os ignoram na prática e fazem a mesma súplica? Não é o maior motivo de vergonha que não possamos perdoar uns aos outros em assuntos tão insignificantes, quando Ele tanto nos perdoou?

De uma lição aos Estudantes, maio de 1976 publicada na revista Serviço Rosacruz de agosto de 1982

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