06/08/2022

POR QUE O FEZ DEUS?

por Prentiss Tucker(*)
"Mãe, por que Deus fez?" Mrs. Ruthers voltou sua cabeça e olhou a Robbie, seu filho de seis anos, sustentado por almofadas em sua pequena cadeira de rodas.

"Por que Ele fez o que, querido?"

"Por que Deus me fez assim, e não como os outros meninos?"

Os lábios da Sra. Ruthers tremeram ao voltar-se de novo ao tanque. Bobbie fez-lhe uma pergunta que havia transtornado sua própria mente muitas vezes e para a qual não havia encontrado resposta. Nasceu e era um bebê reto e forte e assim cresceu durante muitos meses, sendo o orgulho e alegria dela e do seu marido. Logo, por causas que o médico não pôde determinar apresentou-se lhe uma estranha afecção na medula espinhal, a qual se havia piorado até que agora, na idade de seis anos, Bobbie estava completamente paralisado de sua cintura para baixo.


Não muito tempo depois que esta paralisia o atacou, seu pai morreu repentinamente e sem deixar muita provisão para sua mãe e ele mesmo, de sorte que a Sra. Ruthers havia, desde então e com muito trabalho, ganho sua subsistência lavando roupa. Todo o santo dia Bobbie se sentava e a contemplava. Ela tratava de ser alegre, conversar e diverti-lo, ainda que seu coração sofria e seu corpo se sentia fatigado.

Sua pergunta era demais para ela. Ela não podia responder-lhe. Por que, mesmo, havia dado Deus tanto ao rico e tão pouco a ela? Porque havia Ele dado tanta saúde e força a outros meninos, enquanto seu próprio pequeno Bobbie, tão paciente, tão doce, estava condenado a uma morte em vida, sem esperança nem ajuda? Ela, por si, nunca afligiria a ninguém de tal maneira, nem ainda o seu pior inimigo, muito menos a um menino pequeno. Sem dúvida, as pessoas caridosas que a visitavam, lhe diziam que essa era a vontade de Deus e que Ele havia enviado esta aflição porque pensava que era bom para ela. Haviam muitas provas para ensinar-lhe a ser paciente. Por que seu pequeno Bobbie tinha que sofrer deste modo? Se a paciência era uma coisa tão boa para ele, que de todas as maneiras, era paciente por natureza, por que não era enviada uma lição parecida à outros que ela conhecia, e que tinham mais necessidade dela?

"Eu não sei, lindo", respondeu ela. "Talvez algum dia poderemos averiguá-lo, quando vamos ao Outro País ao qual Papai havia ido".

"O outro País". Ela sempre estava falando de "Outro País". Bobbie perguntava-se, se podia chegar a esse País em algum desses grandes automóveis que algumas vezes via passar quando sua cadeira era colocada perto da janela. Seu pai havia ido lá, segundo sabia, e não havia regressado. Também ele se perguntava por que seu pai quis ficar lá e não regressar. Porém, ele não falava disto, porque havia notado que isto fazia sua mãe chorar, mas dizia-se que, algum dia, se chegava a ser grande, sairia de sua cadeira de rodas e começaria a buscar esse Outro País, e ver se podia encontrar seu pai e persuadi-lo a regressar.

Aquela noite sua mãe trabalhou até muito tarde, e ele dormiu profundamente em sua pequena cama quando ela foi se deitar, tendo todo corpo dolorido pelo trabalho do dia, contudo preocupado pela pergunta do seu pequeno, a qual ela não podia responder.

Havia apenas tocado com sua cabeça a almofada, segundo recordava, quando o quarto se iluminou e mirou surpreendida a uma bela mulher parada junto a sua cama.

Era uma mulher a quem nunca havia visto antes, porém seu sorriso era tão doce e bondoso que, quando ela lhe tomou a mão e lhe disse "Vem", à mãe de Bobbie nem ocorreu a ideia de ter medo.

Ademais, a voz desta estranha mulher soava como campainhas de prata, formosa e belamente.

A mãe do Bobbie se levantou, sem nenhum esforço, e ao fazê-lo notou que estava levantando-se, obedecendo a palavra harmoniosa da estranha mulher, sem embargo, seu corpo continuava deitado na cama. Este outro eu dela, o eu que estava levantando-se era um eu diferente, um eu que era mais jovem e mais forte, muito descansada e livre de dor. Olhou para trás por um momento ao eu que estava deitado na cama, e sentiu pena por ele, porque sabia quão cansado e dolorido estava. Porém, estava dormindo agora, enquanto ela - seu verdadeiro eu se sentia tão viva por ela, flutuando e elevando-se para um lugar onde a luz era tão brilhante como se fosse de dia, ainda que ela não pôde ver sol nenhum.

Ao sentir-se flutuando, ligeira e feliz, e cheia de força e com sensação agradável por não ter nenhuma dor nem mal-estar, a Dama começou a falar-lhe, e era como se alguma música bela estivesse sendo tocada ao seu redor. Logo houve outros seres que vinham a flutuar perto delas, seres formosos que lhe sorriam e pareciam ser bondosos e gentis, cheios de amor.

A misteriosa Dama estava lhe dizendo as razões pelas quais sua vida era como era, e por que Bobbie tinha que sofrer como estava sofrendo, e que não era a vontade de Deus este sofrimento, senão a realização de um Grande Plano. Conforme a Dama falava, a mãe do Bobbie começou a compreender. Tudo trabalha de acordo com a Grande Lei, porém, a Grande Lei é uma Lei de Amor e algumas vezes tem que nos produzir sofrimento até que compreendamos que a Lei do Amor é a Lei do Universo. Aprendeu que quando fazemos dano a outros, atraímos sofrimento a nós mesmos em vidas futuras, então, ela soube que numa vida anterior distante, Bobbie havia feito o que não era bom, e isto se refletia sobre ele nesta vida, fazendo sofrer seu próprio corpo.

Começou a ver que o fim de todo sofrimento é bom, ainda quando pode ser duro reconhecê-lo assim, quando estamos sofrendo. Sem dúvida, isto é certo, e desta maneira Deus está transformando o mal em bem, a seu modo próprio e perfeito.

Quando houve compreendido tudo isto, chorou de felicidade, e suas primeiras palavras foram: "Oh, então Deus nos ama apesar de tudo! A Dama olhou-a e sorriu de uma forma doce, porém um tanto triste.

"Sim, Ele a ama certamente", disse a Dama gentilmente, "e vê-la sofrer é algo que O faz sofrer. Porém, agora você compreende por que as coisas são assim, e como terminarão".

Na manhã seguinte, quando a mãe de Bobbie despertou, ela se sentia tão descansada e feliz, que cantou alegremente e tratou de explicar a Bobbie como era, ainda que não pôde recordar de tudo o que a Dama lhe disse. Contou-lhe que a voz da Dama era doce e suave e clara como o som de campainha de prata, e que ela havia lhe explicado por que a gente tem que sofrer (alguns mais que outros). Ainda que ela não pôde recordar toda a explicação, ela sabia, sem dúvida, que havia estado perfeitamente clara para ela, e que tudo era justo, ainda a paralisia de Bobbie. Sabia que alguma vez compreenderia perfeitamente, e saberia o que eles haviam feito em vidas anteriores para acarretar tais sofrimentos. Ao menos pôde ela recordar como, quando as palavras da Dama Misteriosa Ihe haviam feito ver tudo tão claro, ela começou a rir, e estava meio chorosa pela alegria que tudo isto lhe causava.

"Oh! Então é nossa própria culpa, e Deus nos ama depois de tudo!" Por isso havia chorado, e ela pôde recordar em meio das lágrimas e risos e suspiros, e tudo porque ela se sentia feliz de tudo o que a Dama lhe disse.

Ela pôde recordar também em que forma lhe havia sorrido a Dama tão gentil e amorosamente, e que lhe havia dito: "Sim, Pequena Irmã, Nosso Pai nos ama a todos, e o que sofremos não é por Sua Vontade, senão por nossos próprios erros. Não importa quanto nos afastamos de Seu Caminho, Seu Amor está sempre conosco".

Porém, o tempo passou e a paralisia de Bobbie piorou cada vez mais e ambos, ele e sua mãe, souberam que a partida estava perto. Ninguém se atrevia a falar disso por temor de fazer sofrer ao outro, as sim que sempre falavam de outras coisas, e tratavam de rir ainda quando parecesse pouco digno de riso.

Um dia de primavera, Bobbie se despertou de uma sesta no momento mesmo em que sua mãe entrava no quarto com um fardo de roupa. Seguindo-a veio uma bela dama vestida com o mais esquisito traje que ele havia visto alguma vez, e com uma luz que resplandecia em volta dela. Bobbie gritou: "Oh, Mãe! olha" porque ele pensou que sua mãe não conhecia a bela dama que estava atrás dela. 
Então ele estendeu seus braços e exclamou de novo: "Oh, Mãe, olha! A Dama formosa veio contigo". Sua mãe soube num instante o que isto significava, por que quando ela voltou a ver em seu torno, ouvindo a exclamação do Bobbie, não pôde ver nada. Correu e abraçou a seu pequeno Bobbie, enquanto seu coração dava um sobressalto de medo. Tinha medo de deixá-lo ir, ainda que isto significava alívio de dores para ele, e ainda que ela sabia que tão formosa Dama não podia magoar o seu filho.

Quando ela o pegou em seus braços e sentiu seu pequeno corpo tremer, soube que Bobbie havia partido com a Dama - que sua paralisia e dor eram agora coisas do passado. Porém, seu coração penava pela solidão, ainda quando ela estava segura que a Senda do Pai era a melhor.

Tudo foi muito duro para ela. Podia saber que tudo era por algo melhor e de acordo com a Grande Plano, porém, lhe doía o coração e se sentia muito só pela ausência de seu pequeno filho, como se estivesse desamparado. Ele era tudo o que tinha, e agora o havia perdido. O Grande Plano parecia muito frio, sem sentimento e sem coração.

Adormecia essa noite com estes pensamentos de rebeldia em sua mente, e quase com uma censura para Deus em seus lábios. Porém, em seu sonho, a Misteriosa Dama veio outra vez, e com ela estava Bobbie, já não tolhido, senão direito, forte e feliz. A Dama lhe explicou tudo de novo, gentilmente, porém, quando despertou de manhã não pode recordar muito da explicação por causa do júbilo de haver visto a Bobbie tão bem e tão feliz. Sem dúvida, havia algo que ela podia se lembrar, e era a forma em que a Dama lhe havia feito sentir que o Grande Plano não é tão frio nem tão sem coração, senão cheio de amor e de esperança. Isto era um pedacinho do trabalho feito por aqueles que servem ao Rei.

Traduzido da "Rays from the Rose Cross, dez.1929
NOTA: Prentiss Tucker é autor do livro: Na Terra dos Mortos que Vivem que pode ser baixado ou online aqui ou adquirido impresso aqui

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